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"OS SANTOS"

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Mensagem por Admin Seg Abr 01, 2024 10:17 am

"OS SANTOS" Os_san10


Nota do Administrador

A obra "Os Santos" foi concebida há vários anos [2012], em comum acordo com o Autor e a Editora Simplíssimo, a qual era, e continua a ser, especializada em publicações "On Line". Por motivos adversos de ordem estatutária, a obra não foi efetivamente publicada, de modo que esse título não consta no acervo da Editora e encontrava-se adormecido até hoje. Por um golpe de sorte, encontramos a obra intacta, numa núvem perdida na Rede.

Conversamos como o autor, nosso irmão, e nós o encorajamos a tornar público "Os Santos" através dos Forumeiros.  Percebemos que essa página é a mais adequada para esse propósito.



Sobre o autor

José Luiz Negreiros é um comunicador nato. Tem sobrevivido ao longo de seus 55 [68] anos de vida como vendedor, professor de Português, escritor e diretor de rádio FM.O autor quer difundir a paz e a alegria em suas obras. Não apenas na literatura, mas na outras atividades, em que continua aspergindo a inspiração de Deus, que lhe vem gratuitamente do Céu, a qual ele trata de dar passagem com o maior amor vivente nele. Uma cadeira vitalícia na Academia Guarulhense de Letras foi o principal reconhecimento pela obra até então realizada. Como todo sonhador, José Luiz Negreiros luta para ver sua obra compreendida universalmente

Créditos

Copyright © 2012 by José Luiz Negreiros
Capa: Lucia Pouchain Wilson Soares
A capa foi inspirada na foto de Murilo Cimini
Arquivo ePub: Simplíssimo Livros

Plano de Publicação

Tentaremos, dentro do possível, postar um capítulo da obra de cada vez. A capacidade de armazenamento de cada postagem nas páginas dos Forumeiros é maior que a maioria dos fóruns. Se necessário for, subdividiremos um capítulo em duas ou três partes.

Boa leitura!


Última edição por Admin em Ter Abr 02, 2024 9:22 am, editado 5 vez(es)

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Mensagem por Admin Ter Abr 02, 2024 8:21 am

À esperança, que torna
a humanidade realmente única

Este livro tem a pretensão de contar a história de Gites, Mithos e Rewo,
três criaturas verdadeiramente especiais

A Freguesia do Ó é um bairro tradicional e típico de São Paulo. O nome pode parecer incomum para os contemporâneos, mas o nome freguesia significava uma determinada comunidade ligada a uma igreja católica. Assim se formaram os bairros em tempos antigos.

A manhã de quinta-feira se inicia dentro da rotina do bairro e da grande cidade a qual ele pertence. Para o outono, é natural que neste tempo o sol apareça um pouco mais tarde, devido ao posicionamento do hemisfério sul em relação ao movimento de rotação da Terra. São seis horas, e as primeiras luzes do dia, vindas da natureza, vão se definindo melhor. A Rua X é formada por casas de inspiração arquitetônica indefinida ou mesclada, para se dizer melhor, pois o que determinou a estética aqui foi a capacidade econômica de seus moradores, a grande maioria componente da classe trabalhadora. A casa que vai chamar a nossa atenção é a de número 605. Simples, com um pequeno canteiro em sua entrada, pintura um pouco desgastada, telhado em condições razoáveis e uma área total construída não superior a 128 metros quadrados. Não falta a esta habitação o corredor lateral, com cerca de noventa centímetros de largura, suficiente para que uma pessoa passe tranquilamente ou que divida este espaço com outra, a fim de evitar uma pequena colisão humana. Aqueles que têm ocupado esta morada nos últimos tempos são Gites, Mithos e Rewo, que vão dar rumo a esta história. Embora tenham nomes europeus, o primeiro francês, o segundo grego e o terceiro alemão, eles são efetivamente universais. É bem verdade que quem vive no Brasil é dotado um padrão mundial, pois aqui se tornou a casa de todos. Talvez sejamos mais charmosos que os canadenses, australianos, argentinos ou outros países oficialmente descobertos. Colonizados, como diriam os historiadores. Como tudo é evolução, nada mais apropriado do que estar em uma nação jovem, que ganha corpo a partir de sua diversidade étnica, que vai atingir sua maturidade no Dia da União, quando todos forem uma singular etnia. Este laboratório humano, Brasil, é o espaço dimensional das melhores experiências que o homem e Deus podem ter. Grandes ou pequenos, os eventos que aqui se reproduzem, todos os dias, eles vão fazer o Brasil chegar a uma condição especial, exemplar, que vai dar cara nova ao mundo, ou melhor, ao planeta. E será muito fácil contar a história da evolução do Brasil a partir das ações desses três seres extraordinários, portadores de uma luz particular. Gites, Mithos e Rewo adquiriram independência, inclusive financeira, há muito tempo. Portanto, eles não têm com que se preocupar. Os bens materiais lhes chegam normalmente. Mas a vida deles não é tediosa. Se assim fosse, não estariam sendo contados em prosa nesta saga. Sabemos que eles não têm problemas com dinheiro. Sabemos também que eles gozam de saúde exemplar. Atingiram um estágio na existência deles em que o egoísmo e o egocentrismo já foram superados. Sua família é a humanidade. A afirmação é verdadeira, pois a atividade principal do trio é o voluntariado. Eles vivem para, principalmente, ajudar outras pessoas. Costumam ser anônimos. Não se pode esquecer de que o egocentrismo viajou há muito tempo da vida deles. Quem chega a um certo estágio, depois de razoáveis dezenas de anos, vai encorpar sua passagem por aqui com os melhores atos e as ações mais doces e consoladoras. A Terra sempre precisou de amor. Os tempos de hoje, século XXI, precisam muito, também, de amor. Quem puder ajudar que o faça de coração aberto. Desta maneira vamos chegar a um bom destino. É o caso de Gites, baixinho de metro e cinquenta e cinco, nariz um pouco acentuado e tronco forte, para poder aguentar a barra da vida. Os cabelos parecidos com os de Charles Aznavour lhe dão um particular charme, já que ele deve ter sangue de bretões continentais. Os olhos muito negros, misturados aos metro e noventa de Mithos, facilmente sugerem uma origem grega. Parecida altura tem Rewo, o aloirado do grupo, que tem um nome alemaozado um pouco esquisito, mas deve ser germânico mesmo. De esquisitice, os três têm muito a mostrar. Gites, em francês, significa morada, pousada. Não deveria ser, propriamente, nome de pessoa, mas é o nome do baixinho da turma. Mas soa bem, gite, paroxítono, fica assim em português. Mithos não tem segredo, é como o prefixo grego, significa mito, ídolo, ícone e por aí vai. Rewo, o teuto, maneira latina estranha de denominar os germânicos alemães, é um nome, acredita-se, inventado. Se se for buscar na internet, em sítios de pesquisa (viva a língua portuguesa!), observar-se-á que o nome do terceiro é homônimo de uma marca comercial do país de Goethe.

Foram, portanto, apresentados os protagonistas. Cabe ao escritor muita arte, dedicação e esmero para contar a história deles. Trata-se de uma história linda, sublime, que começa em uma simples morada da Freguesia do Ó, bairro da zona oeste de São Paulo, bairro que faz fundo com o chique da cidade e se escancara humilde nas encostas da legendária Serra da Mantiqueira, que é, na intimidade dos paulistas, conhecida como Serra da Cantareira. Simples é a vida, doce é o mundo. O começo haverá de ser, sempre, singelo, para criar espaço para o futuro grande, que é o de dar sentido à totalidade que se enxerga e se sente por aqui.
 
(continua)


Última edição por Admin em Sex Abr 05, 2024 10:57 am, editado 8 vez(es)

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Mensagem por Admin Ter Abr 02, 2024 9:10 am

— Gites, Gites! Que coisa! Seu relógio outra vez não funcionou. Você sabe que temos compromisso importante hoje!
— Rewo! Ah, sim, hein? Por quê? Já nasceu o dia. Passa das seis?
— São seis e quinze, irmão!
— Seis e quinze! Nossa! Deixe-me ver. Chi… Não programei o relógio outra vez. Você já acordou o Mithos?
— Nem precisa, caros associados. Com a conversaiada toda aí, até a vizinhança deve ter despertado. Maria!
— Que tem a Maria?
— Maria vocativa e interjectiva, Gites. São mais de seis e quinze de manhã. É inverno, sim, mas tecnicamente o dia já amanheceu.
— Não é o que mostra o céu.
— Mas é o que indica o relógio e o importante compromisso de daqui a pouco…
— Quanto daqui a pouco, Mithos?
— Creio que não mais que quinze minutos.
— Vamos correr! Vamos pegar um táxi. Haveremos de chegar rapidamente ao nosso destino!
— Gites, a distância quilométrica de nossa visita não conta além de dois mil metros. Que pracista vai querer fazer um pescoço destes logo de manhã?
— O Mithos tem razão, Gites. Vamos por meios próprios, mesmo…
— Dois quilômetros por meios próprios, Mithos? Vamos recompor nosso primeiro programa de hoje. É um quadro musical, não é verdade?
— Sim, você está certo…
— Você, Mithos, com seu tamanhão todo, é um brilhante violinista, falo a verdade?
— Nunca um Nicòlo Paganini, mas dou minhas arranhadas e pzicatadas…
— E você, Rewo. Grandão também e com uma viola clássica para tocar.
— Gites, admita que a viola clássica é maior que o violino do Mithos.
— Vocês, ah!, vocês! Justificando o que não tem justiça. Coube a mim o violoncelo, que, aliás, é até maior que eu! E eu tenho de ir ao compromisso de meios próprios. Façam-me o favor. Cuidem de suas vidas, que eu me viro com a minha…
Pouco depois desta conversa, os três saem, meio desembestados, pela rua abaixo. Mithos tem um belo estojo, onde carrega seu violino. Rewo e Gites, diferentemente, levam seus instrumentos em sacos protetores, feitos de um tecido semelhante ao encerado de caminhões, apenas mais fino. Com os instrumentos, os três rapazes ocupam a calçada inteira. Gites faz um esforço danado para acompanhar seus pares, ainda mais carregando seu violoncelo.
— Devagar, rapazes, devagar! Deste modo vocês acabam me matando!
— Deixe de moleza, Gites! Não é um passo apressado deste que vai matar você. Além do mais, já não são dois mil metros para chegar. São mil e novecentos!
— Você vem tirar uma de minha cara, agora, Mithos! Só por que você é o spalla, isto não lhe dá o direito de mandar no time. Somos um time pequeno, limitado, não precisamos de cacique.
— Eh, maior é Deus, pequeno sou eu, o que eu tenho foi Deus quem me deu…
— O Rewo agora coloca a Beth Carvalho no meio. Bah!
— Sigamos, Gites!
— Estou indo, puf!, puf!, puf! Alguns minutos, não mais que dez se passam, e os três se aproximam de seu destino. É uma casa térrea, também muito simples, não muito diferentes das outras do bairro.
— Viram como a primeira parte da missão não foi tão difícil assim?
— É, Mithos. Pelo menos estamos aqui, com uma condição física razoável e, creio, com a necessária concentração para executar nosso trabalho.
— Gites, você vai tocar a campainha?
— Rewo, meu camarada, você vai notar que estas coisas de tarefa às vezes não necessitam seguir o roteiro normal. O surpreendente acaba por prevalecer em momentos especiais da vida…
— Rewo, Gites tem razão. Percebam, a porta de entrada está se abrindo! A porta da casa é movimentada e atrás dela vem uma mulher. Ela não deve ter nem quarenta anos ainda. Parece um pouco perturbada, sem saber direito o que irá fazer.
— Agora, pessoal!
A voz de alerta do spalla organiza e comanda o início do número musical. Mithos está um pouco à frente, quase junto ao portão. Rewo, de seu lado esquerdo, encontra-se dois passos atrás. Do lado direito de Mithos, mais atrás, fica Gites. É um terceto de cordas, mas o posicionamento até lembra a organização de uma orquestra sinfônica. Tudo, enfim, foi cuidadosamente preparado. A peça musical se inicia. A mulher para, surpresa, também junto ao portão, mas do lado de dentro, e presencia a execução da obra. Trata-se de uma música inédita, de forte inspiração barroca, lembrando as belas composições de Bach. O movimento é allegro. Os instrumentos são tocados com vigor, dando um corpo extraordinário à peça musical. As notas vão subindo e descendo com admirável beleza e maestria. Os rapazes parecem enxergar apenas a música, pois o olhar deles está mirado no invisível. Em impressionante concentração, Mithos toca com força e profundo amor as quatro cordas de seu violino. A música sobe e desce, ritmo frenético. Notas aparecem e desaparecem em formidável sincronismo, compondo uma melodia brilhante e comovedora. Os três dão um show de beleza e interpretação. Seguem as notas. Segue o tempo. O dia está ficando mais claro. Um raio de sol invade o espaço onde os músicos se apresentam. A cor da mulher começa ficar melhor. Já existe um ar de mais vida no rosto dela. Um grupo de pessoas, respeitosamente, forma-se em espaço próximo do espetáculo. Em silêncio acompanham o ritmo das notas. Um extraordinário sentimento de amor e harmonia se compõe neste início de manhã. Força extraordinária. O movimento de carros na rua, ainda que pequeno, pois não se trata de uma vertente importante, acomoda-se à maravilha do momento. Os carros param em frente à casa. As pessoas dentro deles também reverenciam o solene instante com respeito e atenção. A música segue, o ritmo frenético dela também. A vida suspira forte e presente no singelo local. Alguns minutos vão se passando. As notas continuam subindo e descendo, harmonias maravilhosas são executadas pelos instrumentos de nossos heróis. De quem será esta peça musical? Ela é do estilo barroco, sabemos, mas soa tão moderna, tão viva, tão atual! Enche de espanto o povo, enche de amor o coração deles e, sobretudo, traz energia e encanto para a mulher, motivo principal da visita de Gites, Mithos e Rewo. A música está encontrando o caminho de seu final. As notas vigorosas, agora tocadas com menor intensidade, começaram o espaço de seu descanso. Como um rio, como um dia no fim, como um corpo que está saindo da dor e encontrando o conforto da paz. As notas, enfim, silenciam. Está terminada a audição. Gites, Mithos e Rewo não conseguem esconder sua transpiração. O número exigiu deles uma entrega extraordinária, como se o momento e o espaço fossem o mais transcendental evento na vida deles. O que se viu indica que sim. A missão foi brilhantemente cumprida. O povo, liberado, manifesta-se e aplaude. A magnífica música teve, enfim, seu reconhecimento. Ela libertou a emoção das pessoas e um pouco mais do que isto. Os que estavam, ali, parados, para acompanhar a música se vão. As coisas voltam ao normal, e a quinta-feira, agora sim, neste lugar, começa.

— Muito obrigada!
— Ficamos felizes de que você tenha gostado, Maria Teresa.
— Sim, foi muito bonito. Mas, quem são vocês, como vieram parar aqui, como sabem meu nome? — Sabemos, é verdade. Maria Teresa, sou Mithos. Este meu amigo é o Gites e este é o Rewo.
— Prazer. Vocês foram muito bem. Mas, por favor. Vocês vão responder as minhas perguntas? — Maria Teresa, somos do Voluntariado…
— Voluntariado? É uma instituição? Nunca ouvi falar dela…
— Sim, Maria Teresa, é um grupo de pessoas envolvidas em ajudar os seus semelhantes. Fomos avisados de que você precisava de algum tipo de ajuda e achamos que tocar uma música inédita para você já seria um bom começo…
— A música linda que vocês tocaram é inédita?
— Era, pois você e o povo, que aqui estava, já a ouviram…
— Você tem razão, Gites. Mas fiquei maravilhada com o que vocês fizeram. Muito obrigada mesmo!
— Maria Teresa. Esperamos que você tenha abandonado de vez a ideia guardada em sua cabeça…
— Rewo, de que idéia você fala? Não acredito! Quem lhes contou?
— Maria Teresa, já lhe dissemos. Somos do Voluntariado e fomos avisados. Mas, prometa-nos agora que está tudo bem, que você ama a vida, e nada vai deter você para que entre no caminho da esperança e da renovação. Este foi o sentido de nossa música: esperança e renovação. Você, como uma mulher sensível, de bom coração, percebeu isto nas notas musicais de nosso número. O pulso enérgico da música, transportando esperança, renovação e alegria!
— Vocês têm razão. A vida é linda. Não sei por onde andava minha cabeça. Mas estou melhor, acreditem. Não vou sair mais. Vou ficar aqui em casa, esperando Pedro voltar.
— Decerto ele voltará. Embora devamos ressaltar que mais importante que Pedro é você mesma. Pedro é um bom homem, mas tem andado com a cabeça muito esquentada ultimamente. Ele vai voltar melhor, sem dúvida, e haverá de se reconciliar com você.
— Nossa, Mithos! Falo com vocês como se vocês fossem íntimos meus há muito tempo… Que sensação estranha…
— Estranha, mas boa, Maria…
— Sim, Gites. É uma sensação que inquieta, mas me reconforta muito.
— Maria Teresa, temos de ir agora. Esteja bem e saiba que temos Deus olhando por nós, e ele nunca nos desampara. Devemos procurar sempre o melhor caminho. E Deus estará nele certamente.
— Vocês querem tomar um café antes de partir?
— Não é uma má ideia…
— O convite é muito cordial, Maria Teresa. Agradecemos, mas não podemos. Gites, lembre-se do compromisso de logo mais…
— Compromisso! Ah, sim! É verdade. Temos um compromisso importante (ai, que fome!). Você tem razão, Mithos. Teresa, ficamos encantados em tocar a canção inédita para você. Certamente eu, o Rewo e o Mithos saímos daqui hoje com a maior das felicidades…
— Saber que você está e estará bem nos conforta muito. Qualquer hora destas a gente se revê por aí. E será um prazer ver você e o Pedro juntos, vivendo em perfeita harmonia. Vamos, Gites, vamos Mithos!
— Obrigada por tudo, rapazes. Estejam bem, como estou também agora.
— Adeus, Maria Teresa. Até qualquer hora destas. Seja feliz e tenha em mente que a vida é o bem mais caro neste mundo. Faça dele o alicerce para a construção de uma linda história, plena de amor e paz. Faça de sua vida um verdadeiro caminho para a evolução. Desta forma, Deus ficará cada vez mais próximo. Até breve! Os três saem tranquilamente da casa de Maria Teresa e tomam o rumo da casa deles. Chegaram a tempo de evitar a loucura de Maria Teresa, que planejava sair de sua casa pela última vez. Foi interrompida pela música e pelo amor deles. Eles voltam para casa, e ela volta para a vida.
— Mithos, agora que está tudo bem, não temos pressa, mas eu tenho fome!, não poderíamos ao menos voltar de ônibus?
— Ora, Gites. Não se queixe, são apenas dois quilômetros até a nossa casa. O clima está ameno, e andar faz muito bem. — Carregando um violoncelo? Então vamos trocar! Eu levo seu Stradivarius Cover, e você leva meu instrumentão!
— Rapazes! Não vamos nos dispersar. Gites, se você está cansado, deixe-me levar seu violoncelo. Basta que você carregue minha viola…
— Agora não faz muita diferença! Quem tem de trocar é o Mithos. Ou, que ele pague as passagens ou a corrida de táxi!
— Gites! Muitas pessoas trocariam o sofrimento das vidas delas por carregar seu violoncelo…
— Não me queixo do violoncelo. Queixo-me da falta de opção e da falta de democracia em nosso grupo.
— Muito bem. Então vamos votar. Enquanto vamos acertando os detalhes da votação, continuemos andando. Rewo, então você vota primeiro.
— Votar em quê?
— Ora, alemão do Ó, não percebe que estamos falando em arrumar um meio digno de locomoção até nossa casa?
— Nossas pernas não são?
— Podem até ser, Rewo. Mas estudei muito em minha vida para trabalhar como cargueiro de violoncelos. Não é justo que eu, o menorzinho, toque violoncelo e tenha de carregá-lo, ladeira acima, ladeira abaixo. Merecemos coisa melhor. Voltemos à votação, voltemos à votação.
— Muito bem, Gites. Como eu propus a votação democraticamente, também democraticamente indico que eu voto primeiro. E meu voto é por mantermos nossa caminhada, assim como está, até a chegada a nosso querido lar. Um a zero!
— Ah é? Pois eu, democraticamente, por ter democraticamente questionado esta empreitada pedestre em solo terrestre, voto pela volta à casa por condução. Um a um!
— Muito bem. Então, como a votação está difícil e empatada, o voto do Rewo vai decidir. Rewo, querido irmão do Voluntariado, como você vota?
— Mithos, com muita satisfação participo desta decisão harmoniosa de por que meio voltamos à nossa humilde e querida casa. Sempre me sinto recompensado quando as decisões do grupo são resolvidas pela via democrática. Isto é um sinal de aperfeiçoamento em nosso meio de vida, trata-se de uma atitude muito salutar e…
— Pare de enrolar, Rewo. Não estamos no ar. Estamos no chão!
— Pois muito que bem, ansioso amigo Gites. Como sou da paz, um guardião da paz, um difusor da paz, voluntário da paz…
— Sim! Sim! Vote de uma vez, homem!
— Calma, Gites. Completando, como sou um instrumento da paz, vou votar em branco!
— Mas que estupidez! Você não pode votar em branco! Isto é omissão! Isto não é lutar pela paz! Isto é se esconder embaixo do tapete, isto sim! Sem perceber, em meio à acalorada discussão, Gites não notou que os três já estão a cento e cinquenta metros do portão da casa deles.
— Gab!
— Aqui cheguei, Mestre!
— Conte-me notícias de nossos três rapazes…

(continua)


Última edição por Admin em Sex Abr 05, 2024 11:42 am, editado 5 vez(es)

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Mensagem por Admin Qua Abr 03, 2024 8:55 am

— Pois não, Mestre. Eles acabaram de concluir com total sucesso a missão Maria Teresa. Pelo que soube, foi um momento encantador.
— Que bom, que bom. Os rapazes estão evoluindo bem. Isto me conforta e me dá a certeza de que eles estão preparados para a grande missão.
— Também creio nisto, Mestre. Mithos, Rewo e Gites têm cumprido um trabalho brilhante. Eles têm consciência da missão deles e fazem isto com o maior dos entusiasmos.
— Não fossem as briguinhas que eles armam de vez em quando. Por vezes, tenho vontade de rir. Mas admito que fico muito preocupado se eles vão perder a ordem e acabar se desviando da missão…
— Certamente não, Mestre. Esta coisa brincalhona na atitude deles é o lado humano que todos têm. Torna-os mais eficientes e caridosos ainda. Sempre acreditei que os rapazes seriam os melhores auxiliares para ajudar no Dia da União.
— Sim, Gab. Você sempre foi um grande incentivador e agradeço-lhe muito por isto. Gites, Mithos e Rewo terão um papel importantíssimo no evento e na realização da obra. Felicito-me todos os dias por contar com a ajuda valiosa dos três missionários. Mas, Gab, como estão os detalhes dos demais preparativos para a grande festa?
— Indo muito bem, Mestre. Indo maravilhosamente bem. Jamais vi, em minha curta existência, tamanha harmonia e envolvimento de todos os nossos, para que o Dia da União seja um total sucesso e cumpra com o grande plano traçado.
— Gab, estes momentos especiais, que antecedem um fato novo tão espetacular como o que esperamos, fazem com que eu tenha um sentimento de certa inquietude, talvez alguma coisinha de nervosismo.
— Fico feliz que o senhor também esteja assim, Mestre. Prova que a missão iminente mexe com a emoção de todos daqui. E como é bom se emocionar!
— Você tem razão. Mas declaro que preferiria estar emocionado, ouvindo a Pastoral, de Beethoven, agora.
— Seria um momento especial, sem dúvida. Mas o que vem e o que irá nos proporcionar de emoção e de alegria transcende a tudo de belo e empolgante pelo que se viveu até então. Creio que até o senhor, com sua colossal experiência, deve estar sentindo o mesmo que eu e os demais irmãos da Fraternidade.
— Certamente, Gab, certamente. Em verdade, posso-lhe afirmar que, a cada evento como o que virá, a sensação do novo e a emoção por ele é a mesma desde quando começamos isto tudo por aqui. O Dia da União será um evento transcendental, sublime, de fazer emoção em todos os nossos sentidos. Uma marca. Isto! Uma marca que servirá de base e encetará todos os atos do tempo novo que virá. Exulto-me pelo quem e pela transformação maravilhosa, que será sentida por todos e por tudo, num processo gradativo, mas visível a todas as criaturas deste mundo tão amado por nós.
— Amém, meu Mestre. Amém! As forças do bem e do justo se convirjam para este grande ideal, que vai marcar a evolução e o grande salto na vida do homem e de seu mundo. O Dia da União haverá de ser o fato mais maravilhoso dos últimos séculos…
— E, considerando as circunstâncias deste tempo e espaço, Gab, definitivo, ou melhor, provisoriamente definitivo.
— Exultemo-nos, Mestre. Sejamos somente alegria neste momento. Penso na chegada do Dia da União como no nascimento de um tempo novo, muito melhor, inaudito, uma nova era.
— Este é o plano, Gab. Este é o plano!
— Mestre, permita-me dizer-lhe, creio que o senhor tem uma audiência logo em seguida.
— Você tem razão, Gab. Irei receber com alegria a visita dos outros irmãos, a fim de conversarmos sobre as questões do cotidiano e dos preparativos para o esperado dia. Peça para que os irmãos venham. Aguardarei a presença deles aqui com muita satisfação. Fico muito contente quando os assuntos da pauta são ligados à vida e à prosperidade. Das faces reais deste mundo, certamente a do bem é a que mais me alegra e conforta. Pois ela é a que vai sobressair sempre, pois o bem representa o ideal mais lindo e verdadeiro. O projeto foi e sempre será este. Se para evoluir é necessário enfrentar algumas agruras, que se conheçam estes sofrimentos, pois o que virá depois compensa tudo de nefasto vivido. O homem evolui, se é chamado para isto. Se não, nem a roda haveria de ter sido descoberta. O tempo de colher os frutos doados pela natureza, eterna mãe, já ficou para trás há muitos séculos. O homem teve de evoluir. Este é o projeto. Uma vitória se alcança com sacrifícios. Cada ser é um ente autônomo e tem de entender isto. Cada ser carrega sua quota de energia divina, de modo a virar-se e seguir em sua marcha pela evolução. Choro é coisa para os recém-nascidos. Choro é linguagem de bebês. O homem é forte. Há de perceber isto e lutar por suas causas. Alguns animais vieram ao mundo para apenas rastejar. O homem evoluiu. A coluna vertebral dele é uma prova antropológica incontestável. Os anos, décadas, séculos, milênios e milênios têm passado. O curso da evolução tem caminhado muito bem. Ainda que uma boa parcela da humanidade insista em não enxergar isto, o fato é real. Enfim, alegra-me que a face do bem esteja se sobressaindo, e o projeto tem dado certo. Alegria, Gab!
— Alegria, Mestre! Bem-aventurado o momento de glória, que está por vir. Bem abençoada a aventura humana, que está tão próxima de um evento fundamental.
— Muita paz a você, Gab! Que entrem os outros irmãos.
— Mithos! Oh, Mithos! Onde está meu achocolatado? Vou fazer meu desjejum, e você sabe muito bem que eu não me alegro, se não houver achocolatado à mesa.

(continua)


Última edição por Admin em Sáb Abr 06, 2024 7:07 am, editado 1 vez(es)

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"OS SANTOS" Empty Primeiro Capítulo - Conclusão

Mensagem por Admin Sáb Abr 06, 2024 6:59 am

— Gites! Não se faça de bebê. O tempo já passou e faz muito! Você tem a habilidade de descobrir onde a lata de chocolate está. Basta movimentar seus hábeis olhos…
— Mithos! Você ainda não percebeu que a liderança tem lá suas desvantagens? Aliás, não é voz corrente no pensamento humano moderno, que diz a liderança ser um exercício de servir? Atenda ao pedido de seu irmãozinho e dê o achocolatado para ele…
— Rewo! Você exagerou de sentimento este seu comentário. Estamos falando de uma coisa brejeira, nada excepcional. O Gites tem de se virar, a fim de cuidar também das coisas. E esta coisa de liderança é invenção de vocês. Não sou líder nem vice-líder…
— Tudo bem que o senhor Mithos faça cerimônia, discurso etc. e não atenda ao pedido do Gites. Mas, Gites…
— Diga-me prezado e fraterno Rewo…
— Saiba que o Mithos está tirando uma de sua cara. Como podemos notar, a mesa está praticamente toda posta, mas somente o achocolatado não está aqui…
— É verdade! Agora percebo…
— Como também é evidente que o Mithos escondeu seu chocolate de propósito…
— Oh, irmão infiel! Haverá de pagar por esta grande falta! Esconder o essencial sustento de seu pobre e pequeno irmão. O mestre haverá de saber! O mestre haverá!
— Dedo-duro, puxa-saco e voluntário infame é o que tu és, se me permite a solenidade da definição.
— Não concordo! Você escondeu meu achocolatado. Isto não se faz! Estou com fome, e você está tolhendo meu legítimo direito de me suster!
— Não posso mais brincar com você, querido e frágil irmãozinho? Haveremos de ser, o tempo inteiro, voluntários probos, sérios e compenetrados?
— Sim, sim! Probos, sérios e compenetrados! Temos uma missão, e você a conhece muito bem…
— Pois bem, francês de araque. Você está me criticando, criticando, que nem se deu ao trabalho em virar a cabeça. Olhe no canto direito da mesa, bem ao ladinho de você…
— Meu achocolatado! Meu achocolatado!
— Mithos, seu grande fanfarrão!
— Rewo, viver é isto também. Tirar uma da cara das pessoas que a gente quer bem. Esta discussão filosófica serviu, principalmente, para aumentar a fome do nosso irmãozinho.
— Isto é verdade. Fiquei mais com fome ainda! E com licença! Assim que os três amigos se preparam para comer, toca forte e insistente a campainha da casa.
— Mithos! Como você foi o autor intelectual do atraso de nosso café de manhã, creio ser seu dever levantarse e atender ao chamado de alguém lá fora.
— Gites tem razão, Mithos. Você é o homem da vez agora. Mesmo porque eu também estou com fome.
— Não se amofinem rapazes. Sei de minhas responsabilidades e haverei de cumpri-las. Fiquem com o alimento de vocês, que irei atender aquele que nos procura.
— Bom dia, meu camarada. Hic! Bom dia! Você pode se aproximar?
— O máximo que eu puder, amigo. O máximo que puder. Pois não, que você deseja?
— Hic! Hic!
— Percebo que o fenômeno não é soluço…
— Tudo bem, tudo bem, hic!, estou bem. Mas, meu camarada, primeiramente preciso me apresentar. Eu sou o Eustáquio…
— Como vai, Eustáquio? Além da evidência torporosa do álcool, o que mais você pode me dizer?
— Desculpe, seu, seu…
— Mithos…
— Mithos? O senhor é artista?
— Para resistir sorridente a este momento, eu acho que sim…
— Não, hic!, exatamente isto. Artista mesmo de verdade, como o Sílvio Santos, por exemplo.
— Não, Eustáquio. Sou apenas um voluntário. Estou longe de ser artista. Arte é para os virtuosos. Não sei se tenho muita virtude.
— Ora, seu Mithos. Está na cara, hic!, que o senhor é gente fina. Apenas pela razão de estar conversando, agora, comigo, já é uma manifestação de grandeza e de virtude.
— Obrigado, Eustáquio. E deixe o seu para lá. Chame-me de Mithos. É mais fácil de falar e mais fácil ainda de digitar…

— Tudo bem, Mithos. Mas, diga-me. Estou vindo aqui, pois soube que você e seus amigos têm pé de cana no fundo do quintal.

— Pé de cana? Esta é demais! Mas, para que você gostaria de ter um pé de cana?
— Para fazer a água da boa, ué!
— Água da boa. Esta é muito boa. Água da boa é a água de São Lourenço, isto sim! Eustáquio, fale a verdade. Você está brincando e escondendo a verdade. Por que você veio nos procurar?
— Mithos, quero me livrar, hic, desta praga maldita!
— Do álcool?
— Sim e de todos os parentes dele!
— Muito bem. Não sei se eu ou meus amigos temos este dom, mas o que posso fazer agora é convidar você para entrar e tomar o café da manhã conosco.
— Puxa! Muito obrigado. Depois você me mostra o pé de cana no fundo de seu quintal… Mithos encoraja Eustáquio a acompanhá-lo para dentro de casa. Lá, na cozinha, eles vão encontrar Rewo e Gites alimentando-se com disposição.
— Rapazes, este é o Eustáquio!
— Bom dia, Eustáquio!
— Seja bem-vindo, amigo!
— Muito obrigado, hic!, obrigado mesmo. Nossa, que bela mesa!
— Você está convidado a participar dela, Eustáquio. Acomode-se e escolha o que quiser para comer. A manhã se inicia, e você deve estar bem alimentado para encarar o dia.
— Obrigado, Mithos! Mas não se esqueça de depois mostrar-me o pé de cana. Estou muito curioso…
— Eu também fiquei, Mithos. Que história é essa?
— Ora, Rewo. Se não é minha nem sua, e o Eustáquio ficou sabendo dela, só pode ser coisa do Gites.
— Por que eu? Eu, espalhar pelo bairro que temos pé de cana no fundo do quintal e atrair a atenção de interessados? Não lhe parece muito bizarro, mestre Mithos?
— Quando parte de você, brilhante tocador de violoncelo, tudo se torna singular e corriqueiro ao mesmo tempo. É seu dom extraordinário de criar as coisas mais inacreditáveis, que qualquer pessoa sã poderia duvidar.
— Mas, por favor, rapazes, depois eu quero ver o pé de cana.
— Tudo bem, Eustáquio. Alimente-se bem, até para melhorar seu estado geral. Embriagar-se não é coisa boa, e mantendo-se assim, o seu sofrimento somente se ampliará.
— É. Mas você e seus amigos vão me curar…
— Não somos mágicos, Eustáquio. Somos apenas membros do Voluntariado…
— Mas vocês vão tentar.
— Sim, Eustáquio. Mas primeiro vamos mostrar-lhe o pé de cana, no fundo de nosso quintal.
— Gites!
— Ora, Mithos! Que há de errado em mostrar o pé de cana para o Eustáquio? Não deixa de ser uma curiosidade com alguma conotação científica. Mithos se aproxima de Gites e sussurra o mais discretamente possível a ele.
— Mas que mané de pé de cana nós temos no fundo do quintal? Você se entorpeceu com o fogo do Eustáquio?
— Mithos! Se ele ouviu que há um pé de cana no fundo de nosso quintal é porque ele obteve esta informação de alguém…
— Sim, baixinho francês! Recebeu uma informação do lado ébrio da cabeça dele…
— Eustáquio, ficamos felizes que você está participando do café conosco. Sua presença nos alegra e complementa o ambiente feliz desta manhã. Mas, por favor, conte-nos um pouco mais de você.
— Rewo, obrigado pela gentileza. Bem, estou na Freguesia há pouco tempo. Cheguei aqui não creio que há mais de seis meses, cinco, quatro, bem, hic!, não sei ao certo…
— Você vive com sua família?
— Ah, sim, você fala do pessoal do albergue!
— É lá que você pernoita?
— Sim, quando consigo encontrar o caminho do alojamento à noite. Às vezes perco um pouco a noção da rota e vou parar na Casa Verde. Acabo não encontrando o albergue e termino por dormir na rua mesmo.
— Que você faz na vida, Eustáquio?
— Procuro me virar, você sabe. Com este problema da bebida, não consigo me fixar num trabalho. Já não sei em quantos empregos trabalhei estes anos todos…
— Não são tantos assim, Eustáquio. Você dever uns trinta anos, no máximo.
— Trinta e cinco ou trinta e quatro, estou confuso, agora, Rewo…
— Muito bem. Você é muito jovem. Sabemos que você está morando sem sua família, seus companheiros são os frequentadores do albergue, você é dependente do álcool e…
— Quero ver o pé de cana!
— Ai, meu Deus! Que fixação por um pé de cana. Você deveria fazer uma viagem a Araraquara. Lá há um montão de pé de cana…
— Sim, Mithos! É verdade, é muita terra com cana por lá…
— Você entende de terras, Eustáquio?
— Mais ou menos. Meu pai é bom nisso…
— Ele tem terras?
— Ah, Gites, tinha. E tem muita terra…
— Sim, entendemos. Mas conte-nos de seus projetos de vida, daqui para frente…
— Bem, depois do café excelente, que vocês me oferecem agora, eu vou… Os três em uníssono.
— Ver o pé de cana!
— É, mas depois de ver o pé de cana, vocês irão me curar!
— Eustáquio, eu já lhe disse, companheiro. Estas coisas não são assim. Dependem muito mais da pessoa do que daquelas que pretendem ajudar.
— Mas vocês vão me ajudar!
— Sim, naquilo que estiver ao nosso alcance…
— Então está combinado. Depois de ver o pé de cana…
— Você estará curado!
— Gites! Como você afirma uma coisa destas ao Eustáquio! Não somos Deus!
— É verdade, Mithos, mas somos do Voluntariado!
— De alguma maneira o Gites tem razão, Mithos. Se nós acreditarmos, nós iremos conseguir tirar o Eustáquio desta dependência.
— Rewo, nossa vontade, por mais bem intencionada que seja, não significa que poderá concretizar muitos sonhos. As pessoas têm uma história. E esta história vem de longe. A experiência terrena tem razão de ser e faz parte do grande projeto do homem. Ele tem dons cedidos por Deus, mas precisa fazer a coisa certa, a fim de ter a devida recompensa. As duas faces do real sempre estarão afrontando o homem. Ele deverá ter a sabedoria para se identificar com aquela que irá levá-lo para o caminho da virtude.
— O do bem!
— Isto mesmo, Eustáquio! Fico muito feliz que você esteja compreendendo o que eu digo. As pessoas fazem suas opções aqui na Terra de acordo com que julgam melhor. Infelizmente nem todo mundo opta pelo bem, pois o caminho do mal, por vezes, parece ser mais atraente, mais prático e útil. Mesmo porque ele se apresentará como o caminho mais curto.
— O vício, Eustáquio, é um destes efeitos colaterais da escolha errada do caminho…
— O Rewo está totalmente correto. A maioria das coisas que entorpece o homem não passa de ilusão.
— E má ilusão. Somente vai servir para desviar o homem de seu objetivo mais nobre e para o qual ele foi destinado nesta vida.
— Certo, Gites. Uma das missões do pessoal do Voluntariado é mostrar às pessoas que a construção do bem passa por um processo de muito sacrifício e paciência.
— Já ouvi dizer que a paciência é a mãe de todas as virtudes.
— De certa maneira você tem razão, Eustáquio. Para se conseguir coisas verdadeiramente valiosas na vida é necessário perseverar e aguardar o momento certo.
— Exatamente, Gites. Normalmente este momento certo vem depois de uma longa e dura caminhada.
— Agradeço pela ajuda de vocês. Ainda mais agora que eu tenho certeza de que vocês vão me curar.
— Se depender de nossa vontade, você pode contar conosco e com o Voluntariado.
— Mithos! Esta conversa toda enseja a necessidade de colocarmos mais uma boa dose de café na xícara de nosso amigo.
— Boa idéia, Gites! Pegue a garrafa, por favor. Eustáquio, permita que eu coloque mais um pouco desta bebida divina em sua xícara.
— Ela é divina, Mithos?
— Creio que sim. Certamente a cachaça não a é.
— Se o povo tomasse uma dosezinha antes do almoço, outra dosezinha antes do jantar, a cachaça faria até bem para a saúde…
— Você tem razão, Rewo. O problema é que o álcool traz dentro de si uma certa energia maligna, Deus nos livre!, pois o DNA do bicho é para viciar as pessoas.
— Nem todas, Mithos!
— Sim, Rewo. Mas uns oitenta por cento delas certamente.
— Vocês no Voluntariado trabalham bastante com este problema da bebida?
— Sim, Eustáquio. É tema permanente de nossas discussões.
— Vocês chegaram a alguma conclusão?
— Entendemos o problema, mas a tarefa não é tirar conclusões e, sim, ajudar aqueles que precisam de ajuda e que estejam, evidentemente, com vontade de ser ajudados.
— Eu quero ser ajudado! Eu quero! Vocês vão me curar!
— Ah, meu Deus! De onde este homem tirou essa certeza?
— De dentro do coração dele, Mithos! Você, mais do que ninguém, conhece o poder da fé!
— Está certo, Gites. Aliás, na maioria das vezes, você sempre está certo, em que pese seu jeito exótico de ser. Esta sua intuição é um fato a considerar.
— Como devemos considerar que chegou a hora de mostrar ao Eustáquio o pé de cana!
— Oba!
— Só quero ver! Só quero ver (ah, meu Deus!).
— Eu também estou curioso, Mithos. Vamos ver o que o Gites aprontou desta vez.
— Ao pé de cana!
— Sim, vamos todos ver o pé de cana! Tentando manter a tranquilidade, Mithos comanda a pequena caminhada do grupo, rumo ao fundo do quintal. Chamar de caminhada o trajeto de cinco metros é dar um tom épico a uma coisa aparentemente corriqueira. Pelas informações até aqui apresentadas, não existe a possibilidade de existir um pé de cana no fundo do quintal da casa dos três membros do Voluntariado. Mithos não sabe da existência deste vegetal ali, Rewo também está na mesma situação. Resta tentar entender o modo como Gites enxergou o problema e, de uma maneira talvez imprudente, tenha estimulado a turma a fazer a peregrinação ao fundo do quintal. Mithos tem demonstrado ser, ao longo deste tempo, um homem equilibrado, de boas intenções e, incluindo a isto, uma pessoa apoiada sempre no bom senso. Rewo segue semelhantemente a descrição de seu amigo e líder. Gites parece ser o mais jovial e intuitivo dos três. O modo aparente de estar sempre brincando é uma característica marcante do admirável senhor. Gites parece ser a alegria e o lado moleque da casa. Os três, como se sabe, são respeitáveis senhores, com uma longa passagem na Terra. Mas o Gites é a teimosia do novo em pessoa.
— O pé de cana! Em meio a um pequeno espaço, de forma circular, de um diâmetro não superior a dois metros, encontra-se uma área que, com muito boa vontade, pode ser chamada de jardim. Estas casas humildes que, na realidade nunca foram arquitetadas e sim remendadas, a medida em que a verba disponível do proprietário permitia, são efetivamente obra da necessidade, praticamente não têm espaço para jardins. O construtor da casa, onde moram Mithos, Rewo e Gites, deve ser um daqueles brasileiros teimosos, que progrediram à custa de obstinação e fé na vida. Como foi narrado aqui, no começo desta obra, a habitação é muito humilde. Não contribui para a desarmonia estética do bairro, pois ele é todo caótico por natureza. Importa, contudo, que as casas da Freguesia são, em sua maioria, conquista dos trabalhadores e se destinam muito bem a seus objetivos. Pois bem, não se sabe como, no espaço limitado do jardim, que até então abrigava algumas plantinhas rasteiras, com flores ou não, além de um pé de erva-cidreira, de repente abriu espaço para um saliente e exclamativo pé de cana! A planta tem cerca de um metro e cinquenta de altura. A casca da cana está bem roxa, indicando que o caule já atingiu a maturidade. Folhas no topo do pé cana, de um verde vigoroso, esticam-se alertas para o céu. Neste momento, o sol da manhã já se faz bem presente, projetando raios de calor e luz nestas folhas, produzindo um contraste belo e pleno de vida. O fato é, enfim, que há, no jardim, onde não havia, um belo e forte pé de cana!
— Gites! Você pode explicar isto?
— Naturalmente, caro Mithos. Trata-se de um exemplar admirável pé de cana!
— Isto eu, o Eustáquio e Rewo estamos vendo…
— Sim, Gites. O Mithos tem razão. Como você explica este pé de cana aqui?
— Senhores do Voluntariado. É a primeira vez que entro neste quintal. E estou vendo um belo pé de cana.
— Sim, Eustáquio, não há duvida! Nem os portugueses colonizadores do Brasil temeriam afirmar o mesmo. Mas, permita a mim e ao Rewo ouvir elucidações de nosso amigo Gites sobre este notável vegetal aqui plantado…
— Rapazes, permitam-me fazer uma reflexão.
— Você tem um razoável tempo para isto, embora minha paciência quiçá além de humana não indique isto…
— O Eustáquio é nosso convidado especial, certo?
— Sim!
— Muito obrigado, rapazes!
— Ele bateu à nossa porta, não faz muito tempo, à busca de um pé de cana e, principalmente, da cura para sua dependência do álcool.
— É verdade, o Gites tem razão. Vim aqui porque soube do pé de cana…
— Quem lhe contou sobre o pé de cana, Eustáquio?
— Foi, foi, perdoem-me, não consigo lembrar agora. Alguém me falou. Pode ser que eu estava de fogo e não peguei direito quem era…
— Não precisamos inquirir deste modo o Eustáquio. Ele veio aqui porque alguém falou para que assim fizesse.
— É verdade, Gites. Este alguém falou que nesta casa havia um pé de cana e que eu iria me curar…
— Continuando, então. O Eustáquio bateu à nossa porta, foi atendido pelo Mithos, e o resto da história todos nós sabemos.
— Sabemos, sim, Senhor Gites. Quase tudo.
— Como quase tudo?
— Ora, francês do Ó. Estamos falando deste vegetal plantado forte como jacarandá à nossa frente!
— Mithos, oh ‚voluntário do Ó… Enfim, o fato é que o pé de cana está aqui.
— Sim!
— Portanto, uma parte da missão do Eustáquio está cumprida!
— Ah, meu Deus!, e depois, Gites?
— Rewo, mantenha sua postura germânica. Vou concluir minha reflexão. A primeira e talvez a mais fácil parte da missão do Eustáquio está cumprida. Falta apenas a segunda, que pode não ser tão fácil assim…
— Vocês vão me curar! Vocês vão me curar! Compreendendo, finalmente, a reflexão de Gites, os três companheiros, membros do Voluntariado, fazendo uma formação triangular, cercam respeitosamente Eustáquio, o então ébrio visitante, e começam a fazer uma espécie de oração, pedindo forças ao Pai do Céu. Começa Gites:
— Pai do todos nós. Agradecemos-lhe pela graça da vida e pela saúde que o senhor nos dá. Que o amor dado a nós possa frutificar, todo dia, em todos os corações da Terra. Que a fraternidade se mantenha em um processo permanente de reconstrução, a fim de que possamos encontrar a glória de como foi no princípio, e que o homem, pelas suas limitações, acabou por se esquecer. Segue a oração Rewo:
— Pai Amado. Por sua honra e glória, faça descer sobre nós a sua paz e seu amor. Que toda a sua glória inspire o coração de Eustáquio, para que ele atinja o desejo dele, legítimo e indispensável. Se nosso irmão veio pedir ajuda aqui, nesta humilde casa, é porque isto foi desejo do senhor. O desejo de libertação de Eustáquio, amparado em sua força gloriosa, há de encontrar aqui e neste momento sua perfeita realização. O seu amor nos uniu e haverá de unir sempre. Se o sofrimento já não mais se justifica, e um filho seu tem consciência e quer se libertar dele, nada mais natural, humano e perfeito que se atinja aqui a imperiosa virtude do senhor em renovar a vida e dar ouvido àqueles que lhe pedem. Tenha benevolência com Eustáquio e dê-lhe a cura almejada… Finaliza Gites, que se encontra em profundo estado de oração:
— Pai, pai de todos os homens. Pai do mundo. Criador de todas as coisas. Aquele que criou a essência e a fez espalhar por toda sua criação. Altíssimo. Protetor do bem e da boa vontade. Pai bondoso dos bem encaminhados e Pai paciente com os equivocados. Faça fluir a sua força e sua melhor vontade sobre o espírito de nosso irmão Eustáquio, que aqui veio buscar a solução para seu mal. Tenha condescendência com ele e permita a ele obter esta esperada graça. Pai de Cristo, Pai de todos bem-aventurados, Pai de todos nós. Repouse sua mão sobre nós, afagando-nos, confortando-nos, dando sua paz, seu amor sem fim. Cremos no senhor, cremos na sua obra, cremos no seu projeto. Entregamo-nos a ele com toda fé, vontade e esperança. Há uma luta silenciosa operando no mundo agora. Esta luta dura muito tempo. Haveremos de conquistar a grande glória, contribuindo para que seu projeto seja vitorioso. Haveremos de mostrar a nós mesmos, agora, amanhã, depois de amanhã, semana que vem, mês que vem, todo tempo que houver! O homem cumprirá sua missão e se aproximará mais do senhor. Não existirá o fim dos tempos e, sim, o início de um novo tempo. Tempo este em que o amor e a paz nortearão o rumo do homem. Seremos uma família só, como foi no princípio. Vamos cumprir o que está escrito em seu livro. O bem prevalecerá. O mal, equivocado e frágil, finalmente fenecerá! A decisão do homem assim será, pois haverá muitos que lutarão por ela, como o senhor mesmo projetou e espera que façamos. Nosso irmão Eustáquio está aqui. Veio pedir ajuda. Veio pedir um autoperdão. Sob a sua luz, sob seu amor, por sua inspiração. Pai, dê a ele a glória desta graça. Eustáquio está conosco agora e estará sempre. O Voluntariado se fortalece. Muitos estão vindo. Outros tantos virão. Dê a ele esta graça! Pelo seu amor, pela sua grandeza. Faça acontecer, Pai de todos nós! Gites, Rewo e Mithos parecem sair de um estado de consciência especial e retomam seu espaço físico junto ao jardinzinho da casa. Eustáquio, que viveu intensamente a transcendência do momento, mantém-se calmo e atento aos fatos sucedidos e aos que virão em seguida. Os três retomam seus olhares para o centro do jardim e à personagem em questão, o saudável e viçoso pé de cana. O sol brilha e aquece a planta. Observa-se, agora, que de um dos nós do caule do pé de cana começa a verter lentamente um líquido viscoso. O líquido começa a ganhar volume e naturalmente escorre caule abaixo.
— Gites! Arranje um recipiente, rápido!, rápido!
— Sim, Mithos, vou buscar um na cozinha. Aguardem!
— Seja breve! Seja breve!

Fim do Primeiro Capítulo


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"OS SANTOS" Empty Segundo Capítulo

Mensagem por Admin Sáb Abr 13, 2024 11:20 am

Uma reunião acontece em um escritório de uma grande empresa na zona sul de São Paulo. Participam deste encontro três representantes da grande empresa. Um diretor de suprimentos, o gerente, seu subordinado, mais o comprador encarregado da conta. Da outra banda, compareceram o gerente de vendas e seu homem de vendas, responsável este pela conta estratégica, que é a dita cuja grande empresa da zona sul. A reunião começou cedo, pelos padrões de conduta conhecidos. Pois, desde as oito horas da manhã, lá estavam as cinco personagens envolvidas na negociação. Normalmente, sobretudo na zona sul, devido ao trânsito irremediavelmente caótico de São Paulo, os homens de negócios marcam seus compromissos para horários posteriores às dez horas. A menos que os caras sejam muitos degraus acima dos outros mortais e venham a se locomover por helicópteros. A reunião já rola há quase uma hora. O aquecimento já foi feito, os presentes já entraram no quê da questão, e, pelo que se apresenta, as coisas não estão caminhando muito bem. O diálogo, agora, é levado entre o diretor da grande empresa da zona sul e o gerente de vendas da empresa de Guaianases, bairro distante da zona leste de São Paulo, vizinho do município de Ferraz de Vasconcelos.
— Saulo, você tem consciência do que esta proposta da Raio X pode representar para nossas relações?
— Sim, dr. Randolph! Estou certo de que apresentamos as melhores condições possíveis, para que a Raio X continue sendo sua importante fornecedora. Todos os esforços que poderiam ser feitos assim o foram. Nossos profissionais envolvidos estudaram todos os aspectos do negócio, sempre dando realce à importância de sua empresa como cliente nossa. A Raio X vê nesta proposta uma excelente oportunidade para aprofundarmos nossos interesses.
— Talvez você quisesse dizer seus interesses, Saulo. Pois a proposta que sua indústria nos fez beira à insensatez. Vocês estão querendo perder o cliente, achando que estão nos fazendo uma boa proposta.
— Dr. Randolph! O senhor pode comparar! O mercado não oferecerá melhor oferta que a nossa. Vemos em sua empresa um dos sustentáculos de nosso trabalho…
— Então vocês estão querendo ver a lona do circo vir abaixo, ah!, ah!, ah!…
— Ah! Ah! Ah!
— Dr. Randolph! Por favor, avalie com carinho nossa proposta. Já provamos ao senhor, ao longo destes últimos dez anos, do que nossa companhia é capaz. É uma excelente oferta! É uma excelente oferta!
— Que não irá resistir à primeira cotação que fizermos com os chineses…
— Certamente os chineses não poderão oferecer o mesmo produto vendido por nós à sua organização.
— Saulo, Saulo! Não perca o sentido da humildade. Não menospreze a grande capacidade dos chineses em fazer coisas. Veja o que está acontecendo no mundo. Uma nova ordem de potências econômicas está se organizando. Os orientais vão mandar no mundo dos negócios logo, logo. Não precisaremos envelhecer muito para ver isto.
— Dr. Randolph, jamais vou perder o senso crítico das coisas. Sei que os chineses estão ganhando espaço, dia a dia, mas em relação ao produto que nós fazemos, comparado aos deles, com todo o respeito, não dá para comparar…
— E os preços também não, Saulo. Penso que você, seu representante, Agnaldo, devem repensar sua proposta. Temos paciência e alguma consideração com vocês, pois a Raio X está conosco há um bom tempo. Mas não posso levar à presidência e aos outros diretores a proposta de vocês, sobretudo da forma como está.
— Mas o oferta é ótima, dr. Randolph! Estamos seguros disto.
— Não deveria fazê-lo, mas, como disse, pela alguma consideração que temos por vocês, autorizo o Nicolas e o Tarciso a mostrar os números da oferta dos chineses feita a nós. Nicolas…
— Saulo, a proposta para fornecimento de toda a linha de produtos em questão, ora fornecida por vocês, apresentada pela Chu Cho Wan, está em um patamar quarenta por cento mais baixo que à apresentada pela Raio X…
— Quarenta por cento? Quarenta por cento? Não é possív…
— Chefe, vamos acalmar um pouco. Nicolas. Não está havendo uma confusão entre dólares e reais, não?
— Certamente que não, Agnaldo. Você deve estar menosprezando nossa capacidade de analisar propostas de fornecimento…
— Não, longe disto, Nicolas. É que se trata de uma distância absurda. Isto nunca aconteceu comigo e com a Raio X antes…
— Pois bem, Agnaldo. Intercedendo nesta questão, penso se estávamos fazendo bons negócios com vocês, este tempo todo, depois de termos defrontado com uma oferta destas…
— Chu Cho… o que mesmo?
— Chu Cho Wan, Saulo! Você devia se ligar mais nos negócios da empresa para a qual você trabalha…
— Dr. Randolph. O senhor poderia pedir uma rodadinha de café?
— Até posso, pela alguma consideração que temos com vocês. Mas, vejo que o tempo está passando e tenho outra reunião importante agendada para daqui a quinze minutos. Podemos tomar café lá na máquina, andando no caminho de saída.
— Dr. Randolph, obrigado pela atenção. Peço-lhe, por favor, que eu tenha um tempo para levar o teor desta reunião para minha diretoria, de maneira que possamos nos pronunciar o mais rapidamente possível. Não posso tomar um decisão, acima do limite de minha responsabilidade, que envolve um negócio de oito milhões de reais, fundamental para os objetivos da Raio X para o ano que vem…
— Oito milhões se fosse com vocês. Com a Chu Cho Wan, esta cifra não vai passar de cinco milhões e meio, se tanto… Mas, vamos todos ao cafezinho da máquina. Saulo, somos compreensivos e tolerantes com vocês e a Raio X. Dou-lhe um prazo até amanhã, ao meio-dia, para que vocês revejam a proposta feita a nós. Pela alguma consideração que temos com sua empresa, creio ser um prazo bem dilatado.
— Não tanto quanto estão dilatadas minhas veias agora…
— Como, Saulo?
— Nada, Dr. Randolph, balbuciei um pensamento interno, que nada tem a ver com nossos negócios…
— Sim, mas vamos ao cafezinho. Vamos todos lá! Caminharam todos os participantes da reunião para o cerimonioso cafezinho de saída e de despedida. A Raio X vive um momento de intensa incerteza, pois o cliente poderoso da zona sul da cidade, que representa curiosamente quarenta por cento do que a empresa de Guaianases vende, está para passar um programa anual de fornecimento a um desconhecido concorrente do outro lado do planeta. A Raio X viu seu mercado crescer com a conquista desta conta, dez anos atrás, quando ela engatinhava no mercado e não conseguia mudar de posição em seu ramo. A conta da Express Business foi a maior conquista da Raio X. A situação, contudo, parece conduzir para a maior perda que a pequena empresa brasileira poderá ter em sua história. Os representantes da Express caminham firmes e confiantes para o espaço da máquina do cafezinho. Os dois profissionais de vendas da Raio X mal conseguem manter o ritmo de seus passos..

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"OS SANTOS" Empty Terceiro Capítulo

Mensagem por Admin Sex Abr 19, 2024 9:47 am

Mithos, Rewo e Eustáquio permanecem calados, inertes, venerando o pé de cana, que continua a verter o líquido viscoso de um dos nós de seu caule. Não se sabe ao certo o tempo que passou. O tempo cronológico não foi mais do que alguns segundos, mas o tempo transcendental parece ter durado algo parecido com a eternidade. Nisto, Gites vem voltando com uma caneca de ágata entre as mãos.
— Cheguei, cheguei!
— Muito bem, Gites! Aproxime a caneca com cuidado junto ao caule. Isto mesmo. Ainda bem que esta caneca tem uma formação de bico em seu topo. Isto vai facilitar a recolta da seiva. Que coisa linda e impressionante!
— Você tem razão, Mithos. Nunca vi em minha vida, um líquido tão especial verter de um pé de cana como este. E olha que de cana eu entendo…
— Gites, creio que a vazão do caule tenha terminado. Observe que o nó do caule já secou.
— É mesmo, Rewo. E deu um volume legal, acredito que uns 70ml…
— Que precisão, Gites!
— Esta canequinha está há muito tempo comigo. Se eu falar que são mais de vinte anos, é capaz do Eustáquio duvidar.
— Meu caro Gites. Nestas alturas dos acontecimentos, se eu duvidava de algo, passei a acreditar em coisas fabulosas.
— Sim, Eustáquio. Deus vive operando coisas fabulosas. Observe apenas tudo que está a seu redor. Estou falando apenas das coisas visíveis.
— Que são por vezes espantosas.
— Divinamente espantosas e maravilhosas…
— Rapazes, a conversa está muito boa, mas creio ter chegado a hora do Eustáquio beber esta seiva especial, vertida em bondade deste magnífico pé de cana.
— Você tem razão, Gites. Passe a caneca ao Eustáquio.
— Muito obrigado, rapazes.
— Eustáquio, antes que você beba, permita-me fazer um agradecimento especial ao nosso Criador.
— Sim, Mithos, ouço você agora…
— Deus do Céu e de todas as dimensões, agradecemos-lhe pela sua ajuda e pela graça presenciada. Que este seu presente especial venha a contribuir para que nosso irmão Eustáquio reencontre-se com ele e com o Senhor, agora e sempre. Amém.
— Amém! Eustáquio acomodou com serenidade a caneca em sua boca e, suavemente, começou a beber o líquido especial, mais viscoso que a garapa rotineira e menos denso que o mel. Enquanto o visitante bebe com calma, os três membros do Voluntariado observam silenciosamente o ato vivido pelo novo irmão e sentem a presença de Deus muito mais forte no lugar. Alguns segundos se passaram, e Eustáquio tranquilamente sorveu o último do gole da seiva. O rosto do homem está sereno e já se observa uma nova expressão de vida em seu ser. Um sorriso calmo se forma na face de Eustáquio, que, alegre, pronuncia-se aos seus benfeitores.
— Agradecido, irmãos meus! Sinto-me como nunca me senti todos esses anos. Algo me renovou. Uma sensação prazerosa me envolve. É uma paz tão maravilhosa, que tenho a sensação de ter mudado de plano. Deus, nosso Pai maior, seja louvado agora e sempre. Muito obrigado!
— Aconteceu! Nossos três heróis abraçam o visitante com vigor e entusiasmo. É uma alegria silenciosa, mas muito viva e presente. Gites, sempre o mais sensível dos três, deixa transparecer lágrimas caindo de sua face. Mais uma missão do Voluntariado foi com felicidade cumprida.
— Queridos amigos! Creio que chegou a hora de partir. Tenho que recuperar muito tempo largado para trás.
— Eustáquio, ainda é cedo. Por que não vem com a gente, a fim de darmos continuidade ao café da manhã?
— Obrigado, Mithos. Vocês já foram generosos demais. Sua intercessão e a obra de Deus, vividas aqui, hoje, já me deu todas as forças suficientes. Tenho muito que fazer daqui para frente. Vou me recuperar. Colocar minha vidinha em ordem, a fim de tocar outros importantes projetos para diante.
— Muito bem, Eustáquio. Que projetos seriam estes?
— Doar-me a causas solidárias. Se eu estou recuperando algo precioso, hoje, não é apenas para mim. Deus me mostrou isto. Como eu disse a vocês, assim que entrei aqui, minha família tem muitas terras…
— Que legal, Eustáquio, sua memória está muito boa! Até já havia me esquecido deste detalhe…
— Então, Mithos. Vou procurar meus familiares. Dizer a eles que estou bem melhor, curado e pronto, a fim de retomar minha vida.
— Então você vai administrar as terras da família.
— Melhor que isto, Rewo. Vou pedir a meus parentes que me cedam, já, uma das fazendas nossas. Gosto, particularmente, de uma delas, que fica em Barra do Garças, no Mato Grosso, quase divisa com Goiás…
— Barra do Garças! Brrrrrrrrr!
— Você está com frio, Gites?
— Não, Eustáquio. Não foi nada. Barra do Garças me traz recordações muito boas. É realmente uma região muito linda, que é muito especial para mim e para a turma.
— Sim, Eustáquio. Eu, o Gites e o Rewo temos muita afinidade e um amor especial pela região. Ficamos contentes que você tenha propriedades por lá e tenha decidido recomeçar sua vida em um local tão rico e abençoado…
— Sim, Mithos. Vou retomar minha vida por lá. E estou certo de que meus pais irão aprovar meu projeto, principalmente agora, depois deste milagre…
— Não foi milagre, Eustáquio, foi mais uma obra de Deus…
— Sim, você falou certo, Mithos. Pois bem, vou falar com papai e mamãe, pedir a eles a fazenda de 1.200 hectares em Barra do Garças e…
— Plantar um canavial!
— Ah! Ah! Ah! Ah!
— A sugestão foi muito boa, Gites, mas meu projeto será muito grande…
— Como?
— Vou montar uma cooperativa.
— Nossa! De que jeito?
— Simples. Dividindo aquilo que vou recuperar com os outros.
— É muito bonita a idéia, mas como?
— Gites, seja mais sensato e calmo e deixe o Eustáquio falar…
— Sem problemas, rapazes. A idéia, em linhas gerais, é esta. Assumo o controle desta fazenda da família, em Barra do Garças, e monto uma cooperativa. Abro inscrição para quem precisa de trabalho, que queira contribuir e não está tendo oportunidades no mercado. De acordo com a habilidade de cada interessado, coloco-o em uma função adequada. A maioria do povo de lá entende de roça e gado, e basicamente por aí vamos entabular nosso projeto. Vamos trabalhar na manipulação do produto colhido e do gado produzido, de modo a dar mais valor comercial e vender melhor. Será o agronegócio, agroindústria, ou seja, um empreendimento com grandes chances de dar certo. A fazenda-indústria de Barra poderá agregar muitas pessoas para trabalhar. Vou presidir o negócio, mas a gestão se baseará no trabalho e no dividendo comunitário, cooperado. Creio que eu possa montar um grupo de duzentas pessoas no projeto, em um primeiro momento e, em alguns anos, a Cooperativa voará baixo!
— Que legal, Eustáquio! Um plano muito bonito, sem dúvida…
— Gites, o futuro do Brasil está na terra. Sempre achei que esta vocação de nossa pátria fosse uma espécie de destinação. O modelo precisa evoluir, é isto.
— Sim, Eustáquio, este modelo e outros de nosso país precisam evoluir com urgência. Está chegando a hora!
— A hora?
— Sim! A hora da justiça. A hora do homem, aqui no Brasil e no resto do mundo, de buscar o entendimento e concórdia. A natureza anda muito zangada ultimamente…
— E Deus, Rewo?
— Ah! Este nunca se zanga. Ele tem paciência e bondade infinitas. Somente Ele para aguentar as cabeçadas que o homem vive dando neste mundão…
— Eustáquio, ficamos felizes que você tenha vindo aqui, procurar membros do Voluntariado. Chegou sua hora. Você tem consciência do que é preciso fazer, e a força maior interveio por você. Temos absoluta certeza de que sua família irá, primeiramente, ficar muito feliz com sua recuperação e dará todo apoio para seu empreendimento, que, aliás, vai de encontro ao grande projeto de Deus para nós. O homem se encontrando com ele mesmo, com seus irmãos e realizando a obra que Deus espera da humanidade. Uma unidade…
— Brilhante, Mithos!
— Brilhante é Deus, Eustáquio. Nós somos apenas lanterninhas…
— Ah! Ah! Ah!
— Até mais, rapazes. Muito obrigado por tudo.
— Seja feliz, Eustáquio!
— A gente se vê. Assim que houver notícias concretas, eu me comunico com vocês.
— Será um prazer, Eustáquio. Cremos que estas boas notícias virão logo, adeus!
— Até breve. Eustáquio se vai, e os três amigos retornam para a cozinha, de modo a completarem o café da manhã. A quinta-feira segue seu rumo, fazendo história, e a vida na casa dos irmãos ganhou mais brilho. Nada mais bonito e oportuno do que ajudar pessoas. O mundo sempre precisará de solidariedade. A história do homem, desde então, tem acontecido em meio a embates, discordâncias, conflitos de interesse e outras situações embaraçosas. Muitos passaram por aqui, objetivando construir relações mais justas, dando exemplo de vida e equidade. Porém, dentre as muitas cabeçadas que o homem tem dado na Terra, a questão do interesse econômico e do egoísmo tem sido a mais realçada nos milênios todos. As leis evoluíram, a ciência mais ainda, porém o ser humano continua devendo uma melhor conduta para si, para seus semelhantes e, enfim, ao Criador. A filosofia demonstra, com autoridade, o conflito do homem em ser ele, pessoa, e ter de se relacionar com uma ou muitas pessoas. A organização dos estados modernos até que poderia preencher as necessidades de uma vida comunitária fraterna, mas o homem sempre peca na questão de seu egoísmo e de seu ego propriamente dito. As religiões tentam contribuir, pelo espírito, a edificar um padrão ético condizente com a potencialidade humana. Mas o bicho homem continua devendo. Evoluímos, é verdade, mas muito falta para que alcancemos a unidade. O ser humano carrega dentro de si um instinto primitivo, que é uma mistura de destemor e temor, situação que o aprisiona, por vezes, e não permite que a evolução aconteça de maneira mais rápida. Viemos ao mundo para evoluir. Muitas linhas de pensamento preconizam o aspecto evolutivo como a razão da existência do homem. Como mostram os escritos da Bíblia, o homem é o maior projeto de Deus. Desta forma, seu destino é buscar o perfeito. E somente vai consegui-lo evoluindo, muitas vezes conflitando, errando, mas este caminho passará certamente pelo processo evolutivo. A ciência tem evoluído de maneira impressionante. As perspectivas do mundo novo são as melhores possíveis, se olhadas pela janela da ciência. O conhecimento humano será muito importante, para que o homem faça as correções necessárias, de modo que sua existência na terra bendita não comprometa o equilíbrio do universo. O mundo somente vai melhorar se o homem melhorar mais que ele. Esta consciência há de ser despertada em grandes proporções. O alerta há de ser geral. Que comece pelos governos, que o povo possa julgar bem e escolher os melhores, que a educação seja a verdadeira base desta transformação. O Voluntariado, entidade singela e eficaz, que estamos conhecendo por meio das figuras notáveis de Gites, Mithos e Rewo, continue firme e forte em seu trabalho. Aliás, uma das grandes esperanças do mundo se situa em organizações sem interesse econômico e com muito foco na causa social. Estas organizações estão se multiplicando na Terra, de maneira nítida e formidável, trazendo grande esperança para o necessário processo de mudança. Os problemas do homem e de suas organizações são bem conhecidos por todos, em qualquer lugar do planeta. Os governos devem cumprir seu papel, e as entidades sem fins lucrativos continuem voltadas à tarefa delas. Certamente teremos dias melhores, com os eventos se harmonizando, e o belo destino do homem se cumprindo.
— Mestre!
— Gab! Como está, meu filho?
— Em paz e feliz da vida.
— Apesar de todos os problemas conhecidos…
— Sim, mas eles estão aí, para serem resolvidos pelos homens.
— Certamente. A humanidade não pode fugir de sua bela vocação…
— Ser feliz…
— Exatamente, filho meu. A felicidade é a grande realização da vida. Ela está acontecendo em todo o sistema. Envolve as pessoas permanentemente. Basta o homem enxergá-la.
— Se ele parar de mirar-se ao espelho…
— É uma das opções do ser humano. Refletir sua imagem em todas as coisas.
— Parecer-se com Deus…
— É uma faculdade daquilo que identifica o homem. O jeito de ser e fazer sua própria liberdade.
— Mas não é uma tolice, Mestre?
— Querer ser rei? Depende, Gab, da perspectiva que você observar o fenômeno. Pergunte àquele que vive alguma espécie de glória se ele não é rei.
— Tem razão, Mestre. Eu correria o risco de ser enxotado pelos seguranças desse rei. A bem da verdade, basta observar como o homem moderno tem se preocupado com sua segurança. Como se ela fosse uma coisa externa e material!
— Eles haverão de entender, Gab. Tudo é uma questão de tempo. Este jogo precisa ter esta lógica de erro e acerto. Se não for assim, não será um bom jogo…
— E as pessoas não evoluirão…
— Certamente, filho, não se acerta se não erra.
— Este é o bonito da Terra. O processo constante de evolução. Mas, Mestre, o senhor não acha que está se perdendo algum tempo? O homem não estaria sendo repetitivo, mal percebendo os exemplos históricos?
— Sou otimista, Gab. Não seria eu se não fosse um otimista por ofício. Os anos terrenos parecem, por vezes, muito longos. Mas a grande aventura da vida nos mostrará sempre que o tempo é, de fato, muito pequeno.
— Mas a harmonia do universo, em sua grande totalidade, diz que está chegando o grande dia da Terra. Estou certo, Mestre?
— Ah, o Dia da União… Será um lindo dia! Todos perceberão a beleza das notas musicais, das coisas mais simples que os cercam. A paz, que conquista a ser concretizada! Confesso que sinto uma inquietação gostosa em meu ser, quando penso no Dia da União. Sabemos que este dia está muito próximo, ainda que muita gente não tenha percebido. Ele virá suave, discreto, como uma folha voando no campo. Assim que ela cair, tudo começará a se transformar. O Jung diria tratar-se do inconsciente coletivo. Aliás, gosto muito das ideias deste homem. Ele é uma boa referência para seus semelhantes.
— Ele é um homem, apenas…
— Não, Gab, um homem! E um homem é muita coisa!
— Perante todo o contexto universal…
— Se você separá-lo deste contexto, certamente ele será apenas um homem. Mas sabemos que isto é impossível. O homem é parte integrante e fundamental para a evolução do universo. E não apenas a Terra.
— O senhor tem sempre razão, Mestre.
— Às vezes faço muitas besteiras…
— Mas creio que elas sempre têm algum propósito.
— As bobagens fazem parte do grande contexto. Nada é nada, melhor dizendo: nada também faz parte do tudo.
— O tudo é a vida! É o acontecer!
— Sim, Gab, meu filho, o acontecer. Que maravilha é a dinâmica do acontecer. Existiria coisa mais fascinante que isto?
— O senhor é a maior autoridade aqui para concluir que não.
— Obrigado pela crença em mim, Gab. Tudo é o projeto maravilhoso. Ele está acontecendo. Segue seu belo destino. E o final, que, na realidade, nunca será final, é a paz.
— Em paz, seremos alegres e felizes.
— Para o encanto de nosso espírito.
— Alcançar a perfeição…
— Ainda que demore, Gab, é o projeto mais fascinante reservado ao homem. Ele lá chegará, ele lá chegará!
— Seu otimismo me contagia, Mestre.
— Amém, meu filho, amém…

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"OS SANTOS" Empty Quarto Capítulo

Mensagem por Admin Sex Abr 26, 2024 9:35 am

O cenário, novamente, é uma sala de reuniões. Esta é imensa. Deve ter uns sessenta metros quadrados. Uma mesa portentosa, feita de madeira de lei, formato ovalado, abriga duas dezenas de pessoas. As extremidades desta mesa não estão sendo ocupadas. Cada dezena de participantes ocupa seu lado do móvel. Alguém bate à porta.
— Senhores, os serviçais vão distribuir café, chá e água a todos, conforme recomendado.
— Encarregado de cerimonial, que eles sirvam rápida e eficientemente. Não queremos, ou melhor, não podemos mais ser interrompidos daqui para frente.
— Pois não, senhor presidente. Cuidarei para que isto não ocorra.
— Senhores, sejamos práticos e objetivos. Haveremos de chegar a uma conclusão satisfatória, que atenda as expectativas bilaterais.
— Para isto estamos todos envolvidos, senhor presidente.
— Secretário, por favor. Leia o resumo da reunião anterior, para que possamos dar continuidade ao assunto de interesse no encontro de hoje.
— Senhores, faço, então, a leitura do resumo da reunião de dois meses atrás, ocorrida no país de nossos hoje visitantes. Se houver alguma dúvida do que for lido, levantem a mão antes de interromper. Se o pedido for pertinente, abrirei espaço para o questionamento.
— O senhor secretário, conforme demonstrou agora, afina-se totalmente à conduta de seu presidente…
— Senhor Kasov, não é esta a questão importante a ser discutida hoje. O que importa é buscarmos o entendimento…
— Senhor presidente. Agradeço pela sua indulgência. Mas entendo que se alguma questão do resumo merecer um aparte, o levantar de mãos deve ser respeitado.
— Então combinemos assim, senhor Kasov. Se algum elemento de seu grupo ou de meu grupo se manifestar, com o posicionamento vertical da mão, valerá a interrupção desde que eu ou o senhor consintamos, referendando com nosso aceno de mão. Está bem assim?
— Creio que o senhor tem razão. Senão este encontro não evoluirá para lugar algum.
— Alegra-me a sua concordância, senhor Kasov. Secretário, faça a leitura do resumo da última reunião. E vamos avançar!
— Na reunião ocorrida, dois meses atrás, em território dos visitantes, ficou acertado que na próxima reunião, ora ocorrendo, ficaria definida a responsabilidade de ambos grupos trabalharem a favor da diminuição ou erradicação do terrorismo internacional. Cada grupo apresentaria sua idéia definida de como cooperar para o sucesso desta missão.
— Muito bem, secretário. Obrigado. Sr. Kasov, que seu país pode oferecer a nós e à comunidade internacional como proposta para diminuição ou erradicação do terrorismo mundial?
— Senhor presidente, na reunião ocorrida entre os membros de nosso governo, concluímos que é impossível pensar em uma erradicação do terrorismo internacional.
— Posso até concordar com o senhor, sr. Kasov, a erradicação do terrorismo internacional é muito difícil, mas, havendo boa vontade de toda comunidade do mundo, poderemos avançar bastante nesta questão. O que não podemos é ficar subjugados a ações de grupos radicais, que agem insanamente contra a segurança da Terra. Temos de estabelecer ações efetivas, de modo que se mude radicalmente o atual quadro mundial.
— Concordo com o senhor, senhor presidente, mas consideramos que os métodos de seu país não têm sido muito eficazes nesta prática.
— Por isto precisamos de uma ampla cooperação internacional! E esta colaboração tem a premissa de que os grupos radicais não podem ser ignorados ou, quem sabe, estimulados por quem quer que seja. Os serviços de inteligência das nações devem trabalhar com firmeza, na busca de encontrar os focos de terrorismo no mundo.
— O senhor consideraria uma revisão nos seus métodos para o combate ao terrorismo?
— Se o senhor apresentar alternativas melhores, podemos evidentemente considerar.
— Existem mecanismos bem definidos, consagrados na ONU, que precisam ser melhor exercidos…
— Esta questão já mereceu uma análise bem detida de nossa parte, sr. Kasov. As ações já foram tomadas, e temos de enxergar o quadro atual daqui para frente.
— Revisando métodos, senhor presidente…
— Com quais alternativas, sr. Kasov? Lembre-se de que meu país tem sido a maior vítima destes atentados medonhos. Haveremos de nos defender, sempre!
— Isto é legítimo, senhor presidente, mas penso que devemos buscar outros métodos para resolver este difícil problema do terrorismo.
— Por exemplo, sr. Kasov?
— Diminuindo a interferência nos assuntos internos de outros países. Exercitando um diálogo mais franco com os parceiros na ONU, estabelecendo uma relação mais objetiva com países que teriam ligação indireta com as bases terroristas.
— E enquanto isto, bombas ou homens-bomba continuariam agindo nos territórios livres, sem nenhum tipo de resposta? As ações de resposta têm de ser mais fortes e imediatas. Somente assim poderemos reverter este grave quadro!
— A prática tem demonstrado que a estratégia não é a mais eficiente. Senhor presidente, gostaríamos de que sua nação considerasse que a questão do terrorismo merece uma severa revisão.
— Senhor Kasov, estranha-me sua posição condescendente com os atos de terrorismo no mundo…
— Condescendente, senhor presidente? Nunca! Cremos apenas que os métodos ora usados são ineficazes e somente estão perturbando mais ainda a ordem internacional. O planeta Terra precisaria mudar de nome para planeta Bomba, tamanha a insegurança vivida pelos povos. O terrorismo sacrifica a tranquilidade de toda a gente, prejudica uma série de atividades produtivas dos países e gera um clima muito pior que o de todas as grandes guerras! Se não mudarmos estes métodos, não será possível enxergar um mundo inteiro daqui a pouco. — Senhor Kasov! Sem dúvida a questão do terrorismo é muito grave, tanto que nos reunimos, mais uma vez, para discuti-la. E, por ser muito grave, merece um duro tratamento de nossa parte e de todas as nações. É fácil fazer proselitismo e ignorarmos nossos mortos. A liderança natural de meu país indica que devemos atacar a questão com muita dureza. O inimigo precisa conhecer nossa força!
— Isto naturalmente ele já conhece muito bem!
— Se já conhece, por que continua a agir insanamente?
— Disse-o bem, senhor presidente, eles são insanos. Por serem assim, não deviam ser abordados como foram. — Se não fossem, como o senhor disse, abordados, não acredita que as coisas estariam muito pior? O mundo não contaria muito mais mortes do que as conhecidas até agora? O momento é de firmeza, de decisiva vontade política de resolver de vez o grave problema. O mundo livre não pode ser acuado por fanáticos! Dispomos de todos os recursos para ganhar esta guerra!
— Mas não estamos ganhando. Senhor presidente, considere as propostas da ONU, restabeleçamos nossos foros tradicionais de diálogo, a fim de encaminhar bem uma solução eficaz para o terrorismo internacional. Reconheça que esta guerra está longe de ser ganha…
— Longe de ser ganha porque estes terroristas não nos assustam por causa de suas ações loucas e seu fanatismo. Eles têm grandes financiadores, sim! E a suspeita de meu país é a de que algumas nações, de modo aparentemente sigiloso, estariam fomentando estes terroristas, com o intuito de tirar proveito da grave situação mundial.
— Senhor presidente, o senhor tem elementos para fazer um julgamento desses? Esta é uma suposição muito perigosa.
— Nossas idéias perturbam o senhor e seu país, senhor Kasov?
— Sua indagação não nos deixa confortáveis, senhor presidente. Meu país está devidamente empenhado em cooperar. Quem não está muito disposto a agir com cooperação é o senhor.
— Senhor Kasov, lembre-se de que o senhor é visitante e está no território de meu país. Não é elegante de sua parte fazer comentários críticos inadequados sobre a atuação de meu governo.
— Não fui eu que sugeri estultices sobre acobertamentos ou financiamentos ocultos a grupos radicais terroristas. Apenas reempenho nosso desejo de envolver a ONU nesta questão.
— Em suma, o seu país não colabora com o meu no endurecimento do combate do terrorismo internacional… — Se é necessário intensificar a ação antiterrorista, esta deve ser estudada e apoiada pela ONU. A posição de meu país é a de buscar outros métodos…
— Como, por exemplo, convidar os terroristas para uma valsa em Viena, senhor Kasov…
— Não danço valsas, senhor presidente…
— Nem faz financiamentos discretos também…
— Esta é uma insinuação muito grave e ofensiva, senhor presidente! Meu país não pode tolerar um comentário desta natureza! Estamos comprometidos com a harmonia e a coexistência pacífica entre as nações!
— Não foi sempre assim…
— O mesmo eu posso afirmar do senhor e até colocaria o verbo no presente, dizendo: não é sempre assim…
— Vejo que o senhor está um pouco perturbado, senhor Kasov…
— Sou diplomático, mas sou humano e não posso absorver insinuações irresponsáveis feitas aqui pelo senhor!
— Senhor Kasov, superemos a divergência manifestada agora e pensemos construtivamente. Queremos o apoio de seu país, para dar continuidade à forte ofensiva contra o terrorismo internacional…
— Meu país está ofendido com sua desconfiança…
— Senhor Kasov, eu não disse nada objetivamente contra seu país nesta questão de financiamento a grupos terroristas. Entenda a preocupação de meu povo com relação ao estado de intranquilidade vigente.
— Senhor presidente. Repudio qualquer ilação de atitudes incompatíveis com a cooperação por parte de meu país. Temos um compromisso muito sério com a paz mundial, mundial, mundial eu disse! É impossível isolar um país de um problema que afeta toda a humanidade.
— Concordamos com o senhor. Mas defendemos a nossa posição com firmeza. Os senhores estão fora, então?
— Fora?
— Fora do grupo daqueles que desejam exterminar o terrorismo mundial, que ameaça a segurança de todas as famílias de bem? Que põe em risco a ordem mundial e o futuro de nossa espécie?
— Nunca estivemos fora desta questão, senhor presidente. Apenas exigimos mais respeito.
— Os senhores o tem.
— Senhor presidente, creio que esta reunião não serviu para muita coisa…
— Sempre haverá um lado positivo.
— Não como o de hoje, quando foram levantadas suspeitas descabidas.
— É preciso que eu lhe peça desculpas por isto?
— Seria mais construtivo se o senhor e seu governo desconsiderassem qualquer tipo de suspeita sobre a retidão dos atos de meu governo.
— Quero crer que sim, senhor Kasov. Desculpe-me pela minha atitude, esta situação tem me intranquilizado muito. Nosso país e o mundo precisam de uma rápida saída para esta grave questão.
— Concordo. Vemo-nos na ONU na próxima reunião?
— Se houver alguma por lá, certamente teremos uma representação respeitável e autorizada de meu país.
— Por que o senhor não vai?
— Quem me garante que não haverá uma bomba embaixo da cadeira em que irei me sentar?
— Senhor presidente… O senhor precisa acreditar na força da união. A responsabilidade de seu país para a paz mundial é enorme, em função de sua grandeza, mas seu país não é o único entre nós. Somos duzentas e duas nações…
— Certamente, senhor Kasov, mas é público que somos o principal alvo do terrorismo internacional. A pujança de minha pátria acaba por incomodar certos grupos e algumas nações, e as consequências têm sido estas que todos conhecemos…
— Venha à ONU, senhor presidente, em pessoa. Estou certo de que seremos muito mais felizes…
— E viveremos felizes para sempre?
— Certamente mais felizes do que hoje.
— Os terroristas e aqueles que são contra o mundo livre também pensam assim?
— A maior parte do mundo pensa assim.
— Senhor Kasov, senhores integrantes desta delegação. O governo de meu país agradece aos senhores pela oportunidade de realizar esta reunião. Reitero a nossa disposição de continuarmos nesta luta, até a vitória final. — O nosso país também acredita nesta vitória. Passando pela ONU.
— Voltaremos a conversar, sr. Kasov. Minhas recomendações a seu povo e às nações vizinhas. Nossos auxiliares das relações exteriores acertarão um breve encontro, a fim de darmos continuidade ao nosso diálogo.
— Perfeitamente, senhor presidente. Guarde apenas uma palavra, que sintetiza o nosso encontro de hoje. Ela não é certamente desconfiança.
— Senhor Kasov…
— Tudo bem, senhor presidente, entendo. A palavra é união.
— Ela faz a força!
— Sim, e ela terá um dia!

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"OS SANTOS" Empty Quinto Capítulo

Mensagem por Admin Sáb maio 04, 2024 11:26 am

Mithos, Rewo e Gites estão se preparando para sair de casa. Eles têm assuntos interessantes para seremtratados na rua. Embora aposentados, o trabalho no Voluntariado ocupa bastante o tempo deles. Não setem notícia das famílias deles. Por certo, algum tempo para cá os rapazes fizeram a opção por suas famílias, ouseja, todas as pessoas do mundo ou todas as pessoas para quem eles possam prestar algum tipo de ajuda. O exercício das funções no Voluntariado acabou por permitir que nossos amigos desenvolvessem habilidadesespeciais. Aqueles que creem no legado de Cristo haverão de se lembrar de que o homem consegue coisasimpossíveis quando tem fé. A fé e sua magnitude ainda não receberam, por parte da ciência, uma explicaçãoracional. Os homens da ciência vão fazer descrições sobre hormônios e outros elementos, com o justo objetivológico racional de definir os atributos do sentimento de fé. A experiência humana, no entanto, indica que a fénão é para ser explicada e sim vivida. Fica muito clara a eficiência da fé, quando o homem a tem com toda aforça de seu coração. O querer é um processo maravilhoso, o querer faz harmonizar uma série de fatorestangíveis e intangíveis, resultando no milagre da realização daquilo que aquele sonha. O homem, sobretudo oocidental, ainda não conseguiu quantificar o valor e a intensidade da fé. A fé tem funcionado razoavelmentequando praticada no ambiente religioso. Explica-se o sucesso desta empreitada, pois quando o homem sesubmete a Deus, posicionando-se no degrau compatível com suas limitações, ele vai atingir a resposta de seuspedidos, pois terá colocado nas mãos do Criador os seus desejos. Evidentemente estes desejos têm de serjustos e dignos, pois não se podem esperar soluções inadequadas advindas da força de Deus. Pode-se refletir,contudo, sobre os chamados trabalhos da área espiritual ignorante, que atuam sobre valores profanos e pouco nobres. Estas atividades estão, porém, mais ligadas a forças inconsequentes, destrutíveis, que são limitadaspela própria constituição delas, sempre baseada na ignorância e em valores sofismáveis, de amplitude muitoreduzida. O bem e o mal são faces apresentadas ao homem todos os dias. A opção é do homem. Muitas vezesele precisa escolher errado, arruinar-se, afundar quase no todo, de modo que possa aprender alguma coisa. Noentanto, a história da humanidade e do mundo nos indica que o bem é o caminho seguro para o perfeito. Obem é a expressão genuína de Deus. Para se alcançar o bem, é preciso caminhar e esforçar-se mais. Noentanto vale a pena, vale muito o sacrifício. Experimente comer um prato de arroz e feijão sem fome nemvontade. Você não passará da segunda garfada. Contudo, trabalhe para valer e sinta a fome brotar fundo emvocê. O dito prato de arroz e feijão lhe parecerá o melhor e mais apetitoso alimento deste mundo. Por tudo quese tem visto na Terra, história afora, ao longo dos séculos e milênios, não resta a menor dúvida de que o bem éo melhor ideal. O mal é verdadeiro, machuca, favorece alguns e prejudica muitos. Mas ele é imperfeito. A suadeformação é visível, escancaradamente pública. Não é necessário muito tempo para se concluir que o mal é ofilho da ignorância, da vaidade e do egoísmo. Quanto mais se aproxima do objetivo material, mais se distanciado espírito. A matéria é boa, sem dúvida. Ela é criação de Deus. Mas a matéria é veículo para a alma crescer,evoluir. A matéria não é essência por si, por mais fascinante que ela seja e é. A essência é o espírito. O espíritoé o fim das causas. O espírito é a eternidade.
— Gites! Você está com o material preparado?
— Sim, Mithos. Está tudo aqui. Arrumei tudo direitinho. Este materialão todo nos será muito útil na reuniãodo Voluntariado…
— Você tem condições de carregá-lo sozinho?
— Evidentemente que não, caro irmão líder. Preciso dividir esta tarefa com você e o Rewo. Veja! Que montãode papéis, cartolinas, transparências. Estou me sentido um pré-doutor!
— Pré-doutor, Gites?
— Sim, irmaozão, pré-doutor prestes a ser titulado doutor, que vai fazer uma brilhante exposição de tesepara a banca.— Banca dos abacaxis…
— Rewo! Não aborreça o Gites. Ele tem razão, é muito material para levar. Será mais inteligente de nossaparte separar este material em caixas. Assim nosso esforço será menor.
— Mais inteligente, você quer dizer.
— Isto mesmo, Gites. Rewo, creio que temos algumas caixas de médio porte no quarto do fundo. Três delasdevem embalar bem nosso material da reunião.
— Você tem razão, Mithos. Guardei algumas delas no quarto do fundo. Vou buscá-las…Toca a campainha.
— Quem vai atender a campainha esta vez?
— A última fui eu. Lembrem-se bem disto.
— Sim, Mithos. Quem está disponível?
— Eu vou buscar as caixas no quarto do fundo.
— Eu vou checar o material da reunião, para ver se ele está certinho mesmo.
— E eu vou dar uns petelecos em vocês, se vocês insistirem em agir como crianças.
— Mithos! Você merece um sopapinho! Você precisa perder esta mania de mostrar que é adulto o tempointeiro. Evidente que você o é. Todos somos! Não nascemos ontem nem anteontem. O fator de termos umavida longa não significa que devamos nos abster da juventude de nossos corações, da alegria de viver.
— Vocês com este papo estão fazendo com que a pessoa que está lá fora espere mais do que o normal.
— Vai que seja um vendedor de carnê.
— Gites, você sabe que não é…
— Oras, Mithos, não sou adivinho. Minhas inspirações não me pertencem como não pertencem a algum denós aqui…
— Mithos, como você sabe que a pessoa lá fora não é um vendedor de carnê ou assemelhado?
— Rewo. Não precisa ser santo para saber certas coisas. Sobretudo quando a gente procurar ouvir com ocoração, não apenas com os ouvidos.
— E o que diz o seu coração?
— De que devemos ir os três lá fora e dar atendimento a quem nos chama.Assim fazem Gites, Rewo e Mithos. Os três abandonam a sala e caminham rumo ao portão de entrada dacasa deles. O coração de Mithos lhe ensina que este novo dia vai contar uma nova e interessante história.
— Irmãos!
— Bom dia, senhora! De que maneira podemos ser úteis à senhora?
— Irmãos! Vim trazer-lhes a palavra da salvação!
— Amém…
— Meu nome é Sara.
— Muito prazer, sou o Mithos…
— Eu o Rewo…
— E eu o Gites.
— Pois não, dona Sara. Vamos ouvir sua palavra.
— Irmãos, a que senhor vocês servem?
— A Deus Pai, todo poderoso.
— Vocês estão no caminho da verdade?
— Procuramos estar, todos os dias. Lutamos muito para que isto seja realidade.
— Vocês querem conhecer o verdadeiro caminho da verdade?
— A senhora conhece este caminho?
— Sim, é a palavra de Jeová, nosso Pai.
— Que sempre seja louvado.
— Ah! Os senhores também são testemunhas de Jeová…
— Todas as pessoas de bem testemunham a palavra de Jeová e a vivificam o tempo inteiro. Virtuososaqueles que verdadeiramente seguem a palavra de Javé.
— Jeová, senhor Mithos.
— Perdão, dona Sara. Se a senhora se sente mais confortada chamando nosso Pai de Jeová, assim façamos,para o bem de nossa conversa e para a harmonia deste momento.
— Desculpem-me, senhores. É importante que eu saiba se os senhores são testemunhas de Jeová, se foram batizados…
— Não seria mais importante, dona Sara, com todo o respeito, que o amor fosse o condutor de nossos atos,para a alegria de nosso Pai?
— Naturalmente é importante o amor entre irmãos, senhor Gites. Mas é muito importante reconhecer nosso deus único como Jeová, aquele que criou o mundo e deu forma a todas as coisas existentes.
— A senhora tem razão, dona Sara. Jeová é a glória para todos nós. Mas não somos batizados pela sua denominação. Espero que a senhora não se decepcione.
— Lógico que não, senhor Rewo. Para isto estou aqui.
— Para pregar a palavra de Deus?
— Com toda a energia de meu coração, mas também para levar vocês à glória de Jeová!
— Dona Sara, vamos nos fixar, primeiramente, na palavra do Senhor. Deixemos a denominação para outro campo da discussão. Queremos escutar da senhora a mensagem de Jeová para hoje.
— Hoje e sempre!
— Amém, mas conheçamos a palavra que a senhora tem para nos dizer agora.
— Irmãos, o armagedom se aproxima!
— Para quando, dona Sara?
— Para um tempo muito mais breve do que se possa imaginar, senhor Gites. Os sinais enviados por Jeovásão muito claros. É preciso que estejamos preparados para o dia do juízo, o dia do julgamento. Venho aqui comesta missão, de levar vocês, irmãos, para a glória de Jeová e salvar vocês do fim do mundo.
— E o que fazer para evitar o armagedom, dona Sara?
— Evitá-lo, senhor Rewo. Está escrito. Ele acontecerá. O mundo não tem mais jeito. Que se salvem aqueles prometidos a Jeová. O tempo é curto. Precisamos amealhar o maior número possível de irmãos. Os que estãona verdade caminham para a salvação, mas muitos ainda não conheceram a verdade. E a verdade é Jeová.
— Nisto a senhora tem muita razão. A verdade é Jeová.
— Então, senhor Mithos. Junte-se o senhor e os seus amigos a nós. Caminhemos pela senda de Jeová!
— Estamos neste caminho há muito tempo, dona Sara.
— Mas vocês parecem não temer Jeová e o armagedom.
— Nós amamos Jeová, do fundo de nosso coração. Desculpe-nos, mas não tememos nem Jeová, nem
oarmagedom. Temer a Deus, em verdade, é respeitá-lo profundamente, seguir seus mandamentos, amá-lo detodo coração, como também devemos amar nosso irmão e toda a criação de Deus.
— Por que vocês não creem no armagedom?
— Esta vamos deixar para o Mithos responder, pois ele é o mais culto dos três.
— Exagero, rapazes. Estamos todos no mesmo barco e no mesmo estágio de evolução. Dona Sara, a senhora reconhece que o homem é o projeto mais importante de Deus?
— Reconheço.
— Sendo, portanto, o homem o projeto mais importante de Deus, por que nosso Pai iria querer a nossa destruição?
— Ele não quer. É o homem que está se destruindo por espontânea vontade.
— Não podemos generalizar.
— Mas é o que se vê, senhor Mithos.
— É o que também se pode ver, dona Sara.
— Não se esqueça, senhor Mithos, que Jeová já dizimou civilizações infames em outros tempos, pela razão destas pessoas se distanciarem da palavra de Jeová Deus.
— Naqueles tempos…
— E as coisas mudaram?
— Evidentemente que sim, dona Sara. É preciso ver com mais frescor e bondade os novos fatos da história…
— Bem que eu gostaria disto, senhor Mithos. Não é o que as testemunhas veem.
— Porque vocês têm fixação no fim dos tempos.
— Ora, os senhores não conhecem o Apocalipse?
— Sim. Mas procuramos enxergá-lo com um olhar mais amoroso. Não cremos no fim, dona Sara. Insistimos na tese de que somos filhos perfeitos de Deus e temos um compromisso de vida e de fé pela evolução, peloperfeito, pela busca de uma maior proximidade de Deus…
— Sim, mas a palavra diz que o final está próximo…
— Permita-me, Dona Sara, fazer um importante questionamento nesta história.
— Pois não, senhor Gites…
— E a missão de Jesus Cristo?
— Ele teve uma missão muito importante entre nós. Veio ao mundo para mostrar aos homens o caminho da verdade e da salvação. Não foi totalmente feliz, a morte dele foi uma dura prova disto.
— Jesus tinha percepção de que a missão dele na Terra comportava muito sacrifício pessoal.
— Deu no que deu.
— Dona Sara, sabemos, e respeitamos, a posição das testemunhas de Jeová em relação a Jesus Cristo. É um posicionamento muito parecido com o dos judeus. Mas o Evangelho demonstra claramente que Jesus Cristo foium homem especial. Foi um enviado de Deus para salvar o mundo. Ele é filho do Pai.
— Como todos somos.
— Sem dúvida, mas ele foi muito especial. As doutrinas cristãs o veem como o filho unigênito de Deus. Daí aconceituação da santíssima trindade…
— Jeová é maior que tudo e todos, senhor Rewo. Jesus, ainda que muito especial, é tão filho do Pai comotodos somos. Ele teve uma missão especial. Outros irmãos especiais também a tiveram no mundo, ao longo dostempos, como os livros sagrados e a história oficial reconhecem. Mas nada supera Jeová, nosso criador…
— Entendemos perfeitamente a posição de sua doutrina, dona Sara. Haveremos de ter respeito por ela. Os católicos e os protestantes, porém, veem Jesus Cristo como a encarnação de Deus como homem na Terra.Ainda que tenha aspectos paradoxais esta visão, ela tem muito fundamento, pela obra e maravilhas que Jesus fez entre nós.
— Mas não se esqueça, Gites. Posso chamar você assim, Gites?
— Penso que é melhor, Sara, preenchemos melhor o tempo e o nível de respeito é o mesmo. Mithos e Rewo pensam da mesma maneira.
— Exatamente.
— Então, Gites, não se esqueça de que Jesus sempre chamou Jeová de meu pai e nunca disse que ele era oTodo Poderoso.
— Você tem razão totalmente, Sara. Esta é uma verdade irrefutável. Mas, lembremo-nos, também, de que ele afirmou que ele é o caminho, a verdade e a vida…
— E que ninguém chegaria ao Pai se não fosse por ele…
— Mas uma vez você tem razão.
— Sara, creio que a discussão sobre a figura de Cristo não seja tão relevante, a partir do momento que compreendemos que o mais importante foi o papel e a mensagem deixada por ele aos homens da Terra.
— Concordo totalmente, Mithos.
— Jesus é um homem poderoso, é o portador da palavra de Deus, muito fez e faz pela humanidade.
— Por causa de Jeová, quero crer.
— Não temos dúvida disto também.
— Sara, as testemunhas de Jeová fazem um trabalho muito bonito entre nós, há muito tempo, levando,corajosamente, a palavra de Deus a todos os cantos do mundo. A essência do trabalho de vocês é linda. Por vezes, podemos discordar de aspectos secundários da visão de vocês sobre a postura de seus seguidores. Masisto é um detalhe menor. Estamos todos irmanados pela palavra de Deus e pela salvação prometida por Ele.Temos de levar esta palavra adiante e, também, como seres humanos, praticar com todo o coração a palavrade Deus.
— Vocês são, pois, testemunha de Jeová. Também levam o seu testemunho às pessoas.
— Você tem razão, Sara, ainda que não componhamos como membros efetivos de sua denominação.
— Mas poderiam, Gites…
— Sara, eu, meus amigos Mithos e Rewo, ainda que entendamos a mensagem do Velho Testamento…
— Velho na opinião dos cristãos…
— Sara, deixe para lá. A definição é uma mera questão ilustrativa, catalogatória…
— Continue, Gites…
— Ainda que compreendamos a mensagem do testamento de Jeová, que fala no Dia do Juízo ou Dia de Jeová, como também tenhamos consciência da mensagem de João em seu livro Apocalipse, nós doVoluntariado temos uma visão mais otimista do que seria este dia…
— Ah, agora entendi! Vocês fazem parte da turma da Nova Era!
— Não dissemos exatamente assim, Sara. Não sectarize, por favor…
— Sara, tenha a bondade de escutar o Gites, Sara…
— Naturalmente que terei, Rewo. Vocês são pessoas boas e estou na casade vocês.
— Pois bem, Sara. Nós, do Voluntariado, cremos, com toda a força de nosso coração, que o Dia de Jeová será um dia especial, de renovação, de reconstrução. Não vemos com pessimismo este conceito de juízo apregoado nas escrituras. Certamente aqueles que cometem erros haverão de pagá-los. É a lei. Isto é mais certo do que a matemática.
— Então, vocês concordam que muitos irão se dar mal. A questão é quantificar…
— Você está certa, Sara. Mas é missão do Voluntariado diminuir ao máximo o tamanho do mal na Terra.Sabemos todos que o mal é fruto de um grande equívoco, da ignorância, da imperfeição.
— O mal é a obra de Satanás!
— Ele não está com esta bola toda!
— Como assim, Rewo?
— Este talvez seja o maior erro de todas as religiões.
— Especifique melhor, Rewo.
— As religiões enchem a bola de Lúcifer, dando-lhe status de opositor de Deus.
— Mas ele é o opositor!
— Sem dúvida alguma. O dito cujo consegue algum espaço, pois o espírito dele é atraído pela ignorância de alguns homens, que confundem o verdadeiro valor da matéria.
— Mas Satanás é muito perigoso!
— Você tem razão, Sara. Satanás é perigoso, mas ele apenas sobrevive porque ainda existe a ignorância na Terra.
— Ignorância, Rewo? Pior, é o mal!
— Que nada mais é do que a realização da ignorância. Na realidade, Satanás personifica a má opção que algumas pessoas fazem…
— Algumas? São milhões! Acho até bilhões!
— Pode até ser. Mas, em princípio, todas as criaturas são filhas de Deus. E nosso Pai espera que elas façam aboa opção. Aliás, Sara, não se esqueça de que, nos tempos iniciais, Lúcifer jogava no nosso time…
— Mas foi expulso do paraíso!
— Foi e com razão, pois a figura era muito estúpida mesmo. Aliás, o Diabo representa o egoísmo e o egocentrismo, que são, na realidade, os pecados incutidos no homem.
— E a maldade? A violência? O desamor? O desapego aos mandamentos de Deus?
— Tudo isto é fruto do egoísmo e do egocentrismo. Sara, um irmão nosso, Jim Hohnberger, em seu livro Fuga Para Deus, define bem esta questão. Ele sugere em seu trabalho que o homem deve separar o eu dele e colocar Deus no lugar. Desta forma ele encontrará a salvação.
— Brilhante definição do Jim.
— Puxa, concordamos em algo finalmente…
— Nunca deixamos de concordar, Rewo. Fora o armagedom, o poder do demônio e outras coisinhas.
— Rewo, Sara disse muito bem. Coisinhas. Na essência, estamos todos no mesmo barco.
— Sim, Gites. O futuro é o ecumenismo. O homem se dará as mãos quando respeitar e praticar o ecumenismo. Afinal, Deus é um só. Alá, Jeová, não importa. Nosso Criador é único.
— Rapazes, reconheçam. Voluntariado é uma denominação para a Nova Era…
— A de Aquário, certo?
— Certo.
— Vejo, Sara, que você está por dentro das coisas…
— Havemos de estar, Mithos. As testemunhas de Jeová estão alertas.
— No que fazem muito bem. Mas, para sua compreensão, Sara, o Voluntariado respeita os seguidores dopensamento da Nova Era, como respeita os seguidores de todo pensamento que nos leva a Deus. Mas,desculpe-nos, o Voluntariado não é uma denominação dos aquarianos. Acabamos de comentar. Somos do Voluntariado, um movimento universal de boa vontade, ecumênico, sem denominação, que se apoia no amorcomo a realização perfeita da obra de Deus.
— Rewo, nossa conversa está muito boa. Mas a Sara haverá de compreender que temos compromisso daquia pouco no Voluntariado.
— Mithos, agradeço muito a vocês pela oportunidade de falarmos de Jeová e de sua obra. Vocês estão naverdade, falta apenas dar uma sintonizadinha na frequência.
— Ficamos felizes em conhecer você, Sara, mas vamos deixar a viagem dos cento e quarenta e quatro mil para uma outra hora…
— Vocês podem estar entre estes cento e quarenta e quatro mil! Vocês são ótimas pessoas! Bastam que ses intonizem um pouco mais…
— Obrigado pelo elogio, Sara. Mas, permita-nos, para finalizar, darmos uma mensagem sobre o tempo que está vindo por aí. Não é o armagedom, mas é o Dia de Jeová.
— Tudo bem, tudo bem, respeito vocês, e não vamos nos alongar mais sobre esta grave questão. O Dia deJeová será o dia do armagedom.
— Que tal chamá-lo de Dia da União?Sara se despede de Mithos, Gites e Rewo e vai continuar a missão dela, de levar a palavra de Deus aoshabitantes da Freguesia do Ó neste dia. E os três rapazes voltam ao interior da casa, com o objetivo de pegar omaterial a ser utilizado na reunião dos membros do Voluntariado logo mais.

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